O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Tadeu Leite (MDB), disse, nesta quarta-feira (12), ter ficado triste com as farpas que marcaram os discursos do governador Romeu Zema (Novo), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), nessa terça-feira (11), durante eventos em Betim e Ouro Branco. A passagem da comitiva de Lula pelo estado teve momentos de dissonâncias públicas sobre as causas da dívida mineira junto à União, indiretas a respeito da situação fiscal nacional e críticas ao período petista à frente do Palácio Tiradentes.
“Me entristece muito as trocas de farpas que aconteceram, porque acho que muitos já estão se preocupando, com muita antecedência, com 2026. Temos um ano e meio ainda para trabalhar, fazer o dever de casa e atender à população. Não podemos ficar apenas aguardando troca de farpas”, afirmou Tadeu, após sessão de votação no plenário do Legislativo.
Ainda conforme o presidente, apesar das diferenças ideológicas, os governos de Minas e federal precisam ter diálogo republicano em prol de pautas importantes para o estado. “Muito precisa ser feito por Minas Gerais”, falou.
Embora Lula também tenha mandado recados a Zema, os protagonistas dos embates foram o governador e Alexandre Silveira. O primeiro foco de tensão entre as partes aconteceu em Betim, durante evento na companhia automotiva Stelantis. Enquanto o político do Novo reclamou dos juros que incidem sobre o débito junto à União, o ministro afirmou que o saldo devedor do estado disparou nos últimos anos.
“Mais de um terço do saldo comercial (do Brasil em 2024) foi gerado nesta terra, que, hoje, tem dificuldades para manter as estradas boas e o ensino adequado, devido — e espero que tenhamos uma correção — aos juros que pagamos de uma dívida bilionária, que já é de 30 anos, ao governo federal”, queixou-se Zema, em declaração que teve citação nominal ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Silveira, então, adotou o improviso e esticou o discurso, inicialmente pensado para tratar apenas da planta produtiva da Stellantis, com o objetivo de defender o governo federal e rebater Zema.
“O senhor (Lula) aprovou (o Propag), fazendo justiça com Minas Gerais e dando condições ao estado de se restabelecer, tratando Minas como Minas sempre tratou o senhor: dando a vitória (no estado) em todas as eleições que o senhor disputou”, contrapôs, mencionando o plano de refinanciamento dos débitos estaduais recentemente sancionado pelo Planalto.
Em Ouro Branco, o embate entre Zema e Silveira continuou, com direito a críticas à Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O ministro criticou a venda de usinas da empresa. O posicionamento foi posteriormente rebatido pelo governador em um áudio enviado à imprensa.
“Não podemos, como o governo passado fez, (cometer) um erro grave, que foi vender a Eletrobras. Não podemos repetir isso com a Cemig. A venda da Aliança foi um equívoco nesse sentido”, disse Silveira, chamado de “desconectado da realidade” pelo chefe do Executivo mineiro.
Alfinetadas presidenciais
Zema e Lula, por sua vez, encamparam uma dissonância que começou tratando do número ideal de integrantes do primeiro escalão de um poder Executivo e desaguou em dados a respeito do crescimento econômico do país.
“Apesar de sermos o segundo estado mais populoso do Brasil, somos o que tem o menor número de secretarias: 14. Mas, para o time ganhar o campeonato, não precisa colocar 20 ou 30 jogadores em campo. Precisa é de 11 craques —é o que nós temos feito aqui”, falou.
Lula, cuja Esplanada dos Ministérios conta com 38 integrantes, adotou tom oposto.
“O importante não é discutir se você tem um ou 10. O importante é discutir a qualidade das pessoas que você tem, dos compromissos que as pessoas tê”, apontou, para, em outro momento, tecer nova provocação.
“Precisou eu voltar à presidência para que a economia voltasse a crescer acima de 3%. Ela não crescia há quanto tempo? O Zema não lembra há quanto tempo essa economia não crescia 3%. Precisou entrar um cara de sorte, com uma equipe de sorte, para fazer a economia crescer dois anos seguidos”, emendou.
Zema, que não teve tempo de contrapor a visão econômica de Lula durante o evento em solo betinense, aproveitou a mensagem de voz enviada à imprensa para tratar do assunto.
“O Brasil cresceu 3,4% no ano passado, mas, ao que tudo indica, via injeção de anabolizantes. Não é um crescimento saudável. Está aí a inflação só aumentando; está aí a taxa de juros só subindo. Com certeza, teremos grandes efeitos colaterais daqui por diante”, projetou.