Interlocutores que participaram da campanha de Mauro Tramonte (Republicanos) à Prefeitura de Belo Horizonte andam “quebrando a cabeça” para entender os motivos que levaram o deputado estadual a não ir ao segundo turno da eleição. Entre um e outro mea culpa, a avaliação predominante é de que as ingerências do ex-prefeito Alexandre Kalil na coordenação da campanha, somadas ao seu desgaste na opinião pública, foram determinantes para que escapasse o que consideravam uma “eleição ganha”.
Essa análise teve início já no último domingo (6), dia do primeiro turno da eleição. À medida que o cenário da derrota ganhava contornos concretos, os ânimos se acirraram no comitê de campanha de Tramonte, quando teve início a organização de uma coletiva com a imprensa após o resultado.
Um dos integrantes do conselho político gritou para a uma assessora de imprensa da campanha, ligada a Kalil, que Tramonte perderia a eleição por causa do ex-prefeito. Um acalorado bate-boca teve início.
A insatisfação com Kalil surgiu cedo. O jeito “ríspido” e “truculento”, nas palavras dos interlocutores, de se impor foi deixando o clima de trabalho “pesado”. Mas, mesmo com uma insatisfação crescente em relação aos seus “métodos”, o ex-prefeito se manteve na coordenação da campanha.
“Logo no início, sempre que contrariado ele ameaçava com um ‘ou é do meu jeito ou eu estou fora’. Temendo os desgastes que seu eventual desligamento poderia representar, foram cedendo ao seu ritmo e às suas imposições”, disse um interlocutor que participou ativamente da campanha.
Por este estilo “impositivo” do ex-prefeito, há relatos de um episódio em que o ex-prefeito teria quase chegado “às vias de fato” com representantes da agência que atendia à campanha, ao divergir sobre um material entregue.
Integrantes do conselho político, da parte do Republicanos, fazem um mea culpa por terem permitido, sem maiores resistências, que a construção das agendas do candidato Mauro Tramonte fosse organizada de modo a privilegiar o ex-prefeito de Belo Horizonte. “A gente fica numa situação delicada. Se cobrar demais, a gente é quem vira criador de crise”.
Ainda nesse caso, o das agendas em vilas e favelas, há também a avaliação de que o ex-prefeito somava pouco. “O voto desse eleitor já era do Tramonte, que há 16 anos chega à casa deles como apresentador.”
Erro de comunicação política
Também está “entalado” em alguns representantes do Novo e do Republicanos o que consideram um erro na estratégia de comunicação política adotada pela campanha, ao privilegiarem o apoio de Kalil em detrimento do governador Romeu Zema (Novo). “Nas eleições para o Governo de Minas, Zema ganhou de Kalil também em Belo Horizonte”, disse um interlocutor do Republicanos.
Entretanto, essa estratégia se baseava em uma pesquisa que apontava que a rejeição do governador Romeu Zema era maior que a do ex-prefeito na capital. Havia muitas discordâncias em relação a isso, mas, como Kalil detinha muita influência sobre a comunicação da campanha, acabou se impondo novamente.
Agora, integrantes do conselho político do candidato do Republicanos avaliam que, embora Tramonte tivesse uma fração do eleitorado muito identificada com ele como apresentador de televisão, ainda assim era um candidato associado à direita.
“Ao associá-lo com o ex-prefeito, que há dois anos estava ao lado do presidente Lula (PT) como candidato ao governo do Estado, afastaram os votos de lideranças e formadores de opinião mais identificados com a direita. Se tivéssemos associado mais o Tramonte ao Zema, teríamos pego muitos votos do Bruno Engler.”
Ao final, os representantes do Novo avaliam que o maior derrotado desta eleição é o ex-prefeito. “Quando ele articulou para tirar Zema das peças da campanha, puxou para si todo o ônus da derrota.”