A chinesa XCMG, fabricante de máquinas de construção civil sediada em Pouso Alegre, seguiu em 2024 na liderança em Minas entre as favorecidas por emendas parlamentares – à frente de prefeituras e das polícias Civil e Militar.
Foram R$ 93 milhões recebidos em emendas parlamentares em 2024, segundo dados do Portal da Transparência. Em 2023, foram R$ 151 milhões; em 2022, R$ 379 milhões; em 2021, outros R$ 197 milhões. Em todos esses anos a XCMG foi a pessoa jurídica em Minas mais favorecida por emendas parlamentares, à frente de outras empresas e de instituições do Estado.
Por exemplo, no ano passado a PM de Minas Gerais recebeu R$ 46 milhões em emendas, e a Polícia Civil recebeu R$ 16 milhões. O Fundo Municipal de Saúde de Belo Horizonte recebeu R$ 23 milhões em emendas.
O número de R$ 93 milhões recebidos pela XCMG corresponde a apenas uma parte das emendas empenhadas, ou seja, do valor reservado para pagamento.
Em 2024 foram registradas em favor da empresa 627 emendas parlamentares empenhadas somando R$ 469 milhões, nem todas com origem em Minas. A chinesa teve 158 emendas assinadas pela bancada do Rio Grande do Sul, por exemplo, estado devastado por enchentes no ano passado.
Os parlamentares não assinam as emendas diretamente em favor de empresas, mas de órgãos públicos, como estatais, ministérios e autarquias. No entanto, as empresas escolhidas pelos órgãos públicos para fornecer produtos e serviços também aparecem como favorecidas no Portal da Transparência.
A bancada mineira, como grupo, assinou no ano passado 11 emendas somando R$ 1,2 milhão em empenho para órgãos que contrataram a XCMG. No mesmo ano, R$ 590 mil foram pagos.
Esses valores não incluem as emendas individuais de parlamentares mineiros. Cinco deles assinaram em 2024 emendas para a Codevasf comprar equipamentos, e em todos esses casos a estatal escolheu a XCMG como fornecedora.
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), por exemplo, assinou quatro emendas somando pouco mais de R$ 724 mil em empenhos para compra de equipamentos para a Codevasf. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) assinou uma emenda com empenho de R$ 1,1 milhão com o mesmo destino. O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) assinou outra emenda com empenho de R$ 558 mil, o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) assinou duas somando R$ 908 mil, e o deputado Delegado Marcelo Freitas (União-MG) assinou uma emenda com empenho de R$ 310 mil – todas de equipamentos para a Codevasf.
Essas emendas individuais dos cinco parlamentares mineiros somam R$ 3,6 milhões em empenhos.
O senador Carlos Viana disse a O Fator que “não participa das compras nem da escolha das marcas”.
Em nota, a assessoria de imprensa de Aécio Neves respondeu que o deputado “nunca apresentou emenda em favor da XCMG Brasil Indústria. As emendas apresentadas pelo deputado foram direcionadas para a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), órgão público, a quem cabe a responsabilidade de comprar equipamentos agrícolas a serem doados a prefeituras”.
O deputado Delegado Marcelo Freitas disse a O Fator que “nenhum parlamentar assina emenda que favorece essa ou aquela empresa”, mas “tão somente indica o recurso para a Codevasf e indica os itens a serem comprados com os recursos. Referidos itens são adquiridos mediante licitação pública, a cargo da Codevasf”.
Paulo Abi-Ackel e Reginaldo Lopes não responderam ao nosso contato.
A Codevasf afirmou que todas as suas licitações “são realizadas por meio do Portal de Compras do Governo Federal (Comprasnet) e abertas à livre participação de empresas de todo o país. O sistema não oferece a possibilidade de identificar as empresas concorrentes — somente após o encerramento da etapa de lances os participantes dos processos licitatórios são identificados”.
A estatal acrescentou que “cabe aos parlamentares a indicação dos objetos e dos entes beneficiários — governos estaduais e municipais, associações e cooperativas — das suas emendas impositivas individuais. A Codevasf recepciona essas indicações, avalia tecnicamente a possibilidade de atendimento e executa os objetos por meio da contratação das empresas vencedoras dos processos licitatórios”.
Desde 2016 a XCMG já recebeu mais de R$ 1 bilhão em recursos oriundos de emendas parlamentares.
Procurada, a empresa não respondeu às nossas perguntas.
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