Guilherme Jorgui
O clima entre os vereadores do PL de Contagem não anda dos melhores. Com reclamações de parte a parte, um impasse de tom ideológico entre os parlamentares Pedro Luiz e Mauricinho do Sanduíche ganhou os microfones do plenário e terminou com a saída de Pedro do grupo de WhatsApp que reúne os representantes do partido na Câmara Municipal da cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
As rusgas ficaram públicas, ainda que sutilmente, durante a sessão plenária dessa terça-feira (11). Discursando da tribuna, Pedro pedia apoio dos demais vereadores a um projeto de lei de sua autoria que versa sobre a “regulamentação de áreas de privacidade unissex”.
“A gente quer que homem entre no banheiro masculino e mulher entre no banheiro feminino. Independentemente de como ele se sinta. Isso abre precedentes enormes para aumentar abusos sexuais na cidade e a violência contra crianças e contra as mulheres”, defendeu.
Foi quando Mauricinho pediu um aparte — procedimento legislativo para uma breve interrupção do orador para um comentário, esclarecimento ou questionamento. Distanciando-se da posição do correligionário, ele destacou que a proposta apresentada não representava a posição da bancada do partido.
“Cada vereador tem a sua prerrogativa. Meus melhores amigos são homossexuais. Aqui nós respeitamos todas as opções e escolhas. Deixo bem claro que respeito todas as partes e que não sou homofóbico. Eu tenho orgulho de ter na minha família e no meu grupo de amizades homossexuais e eles terão sempre o meu respeito”, rebateu.
Pedro Luiz não gostou da intervenção e saiu do grupo de vereadores do PL. Segundo interlocutores da legenda ouvidos por O Fator, Pedro reclamou que a fala de Mauricinho acabou rotulando-o como “homofóbico”.
A divergência não reflete apenas um mal-estar sobre o tema, mas o transbordo de uma série de atritos gerados pela atuação conjunta da bancada do PL, que acontece sob determinação da direção da legenda na cidade.
Interlocutores da Câmara de Contagem ouvidos por O Fator relataram ter ouvido assessores da terceira vereadora da legenda em Contagem, Tia Keyla, reclamando que Pedro tem “atropelado-a”. Ela tem uma forte atuação na defesa da infância e da juventude e Pedro estaria “copiando” projetos da bancada de direita da Câmara Municipal de Belo Horizonte que invadem a área de atuação da vereadora.
Outro ponto de tensão entre eles seria a disputa pelo comando das comissões temáticas da Câmara Municipal. Interlocutores temem que a possível criação de blocos parlamentares na Casa, a exemplo do que acontece na Câmara de BH e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), possa isolar ainda mais a bancada do PL. Assim, os parlamentares não seriam designados para comitês tidos como importantes — ou mesmo nomeados para colegiados sem relação direta com os eixos de atuação de cada um.
Sem motivo
Em resposta a O Fator, Pedro Luiz confirmou que saiu do grupo de WhatsApp dos vereadores, mas não soube dizer o motivo. Ele ainda afirmou ter ficado surpreso com o aparte de Mauricinho durante o discurso a respeito do projeto sobre as “áreas unissex”.
“Não é nem pelo posicionamento dele, mas pela falta de conhecimento acerca do teor do meu projeto”.
Já Mauricinho do Sanduíche negou qualquer problema na relação com o colega de bancada.
“Pedro é uma jovem liderança do nosso partido, por quem tenho muito respeito. Ontem, durante a sessão, apenas destaquei qual era a minha posição com relação ao projeto que ele apresentou”.
O Fator também tentou contato com a vereadora Tia Keyla. O espaço segue aberto para manifestação.
