Os detalhes da última proposta das mineradoras pela repactuação de Mariana

Negociação envolve governos de MG, ES, União e empresas
Bento Rodrigues, distrito de Mariana, foi um dos mais atingidos com a lama de rejeitos da barragem do Fundão
O rompimento da barragem de Fundão, em 2015, deixou 19 mortos e dano ambiental ainda incalculável. Foto: Agência Brasil

A proposta que está na mesa de negociações entre o Poder Público e as mineradoras Vale, BHP Billiton e Samarco pela repactuação do acordo de reparação pelo rompimento da barragem de Mariana, em 2015, prevê o pagamento de R$ 82 bi ao longo de 20 anos e com 30% deste valor sendo destinado a programas socioambientais geridos pela União e Estados.

O Fator teve acesso à proposta apresentada no último dia 11 pelas mineradoras, que aumentaram para R$ 82 bi de “dinheiro novo”, ainda a ser gasto e repassado a Estados e União.

Detalhamento da Proposta:

Obrigações de Pagar: R$ 82 bilhões
A proposta inclui R$ 82 bilhões em obrigações de pagar ao Poder Público a serem desembolsados ao longo de 20 anos. Estes pagamentos serão feitos em parcelas anuais, iguais e sucessivas, corrigidas pelo IPCA. Deste montante:

  • Aproximadamente 70% (cerca de R$ 57,4 bilhões) será destinado a beneficiar diretamente as pessoas da região afetada, através de programas como:
    • Programa de transferência de renda para os mais vulneráveis
    • Fortalecimento do sistema de saúde local com a criação de um fundo perpétuo
    • Universalização do saneamento na Bacia do Rio Doce
    • Programa coletivo para Povos e Comunidades Tradicionais elegíveis
    • Repasse direto aos Municípios
    • Fundo de resposta a enchentes
    • Fundo para deliberação direta das comunidades
    • Assessoria Técnica Independente
    • Fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
    • Investimento nas rodovias da região
  • Os 30% restantes (cerca de R$ 24,6 bilhões) serão dedicados a outros programas socioambientais geridos pela União e Estados, incluindo iniciativas de desenvolvimento rural, resposta a desastres, adequação às mudanças climáticas, fiscalização de barragens, educação ambiental, cultura e turismo, prevenção à violência doméstica, apoio a microempreendedores e fomento ao crédito rural.

Obrigações de Fazer: R$ 21 bilhões
A Samarco permanecerá responsável por obrigações de fazer estimadas em R$ 21 bilhões. Deste valor:

  • 60% (aproximadamente R$ 12,6 bilhões) beneficiará diretamente as pessoas da região, incluindo:
    • Soluções indenizatórias definitivas para pessoas elegíveis
    • Conclusão dos reassentamentos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo
  • Os 40% restantes (cerca de R$ 8,4 bilhões) serão destinados a benefícios ambientais diretos, como:
    • Recuperação de 5 mil nascentes
    • Reflorestamento de mais de 40 mil hectares (equivalente a 28 mil campos de futebol)

Valores já investidos: R$ 37 bilhões
A proposta reconhece os R$ 37 bilhões já investidos pela Fundação Renova em medidas de reparação e remediação, dos quais:

  • Segundo as empresas, pelo menos R$ 17 bilhões já beneficiaram diretamente mais de 430 mil pessoas através de indenizações e assistências financeiras.

Condições e Observações Importantes:

  1. Segundo as mineradoras, o aumento da proposta está condicionado a termos, incluindo:
    • Inexigibilidade de gerenciamento de área contaminada
    • Levantamento da restrição à pesca
    • Encerramento das portas indenizatórias com data de corte pretérita (PIM, AFE, Novel e afins)
  2. A proposta é não vinculante, confidencial e sujeita a aprovações societárias.
  3. As empresas ressaltam que a oferta busca atender aos principais pleitos do Poder Público, visando a pacificação social e segurança jurídica.
  4. A proposta é válida apenas no contexto da mediação conduzida pelo TRF-6 e não pode ser usada contra as empresas para fins litigiosos.

A proposta, enviada ao Tribunal Regional Federal da 6ª Região em 11 de junho, ainda não recebeu uma resposta. Na semana passada, como mostrou O Fator, a União solicitou mudanças e novas concessões das empresas.

A barragem de Fundão se rompeu em novembro de 2015, matando 19 pessoas e gerando dano ambiental ainda incalculável. A estrutura era administrada pela Samarco, mineradora controlada pela Vale e pela BHP Billiton.

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