A ausência do presidente da Rede Sustentabilidade em Minas Gerais, Paulo Lamac, no ato que oficializou o apoio do partido à pré-candidatura do deputado federal Rogério Correia (PT), nessa quinta-feira (11), foi comentada ao pé do ouvido por militantes e dirigentes presentes ao ato. O não comparecimento de Lamac já era esperado. Atualmente, ele ocupa o cargo de secretário de Assuntos Institucionais e Comunicação do prefeito Fuad Noman (PSD), um dos adversários do petista nas urnas.
No início do ano, Lamac chegou a apresentar uma pré-candidatura própria à PBH. A deputada estadual Ana Paula Siqueira, também filiada à Rede, também manifestou a intenção de disputar o pleito. A parlamentar, no entanto, abriu mão dos planos para o apoio a Rogério.
Nos comentários sobre a ausência de Lamac, especulava-se sobre o futuro do dirigente. Interlocutores ouvidos por O Fator chegaram a aventar, inclusive, a hipótese de desfiliação do secretário de Fuad da Rede. Ele nega.
“Não existe nenhuma possibilidade de eu me desligar do partido. Estamos fazendo um trabalho robusto de crescimento qualificado da Rede em Minas Gerais, então não tem a menor expectativa nesse sentido”, diz.
A fala de Lamac é corroborada por correligionários dele, que compõem majoritário no partido em âmbito estadual e com espaços importantes no diretório nacional. Na Rede, vale lembrar, o líder do partido – cargo que corresponde ao de presidente – é chamado de porta-voz. É esse o cargo atribuído a Lamac na base de dados da Justiça Eleitoral.
Lamac, aliás, nega a existência de um possível mal-estar por causa de sua ausência. “Esse é o grande mérito do ato de ontem, enquadrar os que se recusavam a acompanhar a orientação do partido, ora sustentando uma candidatura que não existia, ora se colocando como vice da pré-candidata do PDT”, indica, em menção a um acordo que Ana Paula Siqueira chegou a firmar com a deputada federal pedetista Duda Salabert.
Esse é mais um episódio da disputa entre Lamac e Ana Paula Siqueira, pela influência da legenda. A rivalidade vem desde o final de 2022 e tem até um ar “dramatúrgico”, tendo em vista a história em comum entre eles. Amigos de mais de 30 anos, eles se conheceram no Instituto de Educação de Minas Gerais, com Ana Paula ainda adolescente. É a disputa entre a “cria e o criador”.
Sobre seu eventual desligamento da gestão municipal, Lamac questionou por que só agora essa seria uma questão. “Essa pergunta está sendo feita hoje, mas poderia ter sido feita dois meses atrás quando a Rede declarou apoio formal à pré-candidatura da Bella Gonçalves (Psol). É curioso”.
A Rede e o Psol, vale lembrar, formam uma federação partidária. O modelo obriga as legendas a seguirem lado a lado no pleito deste ano.
Busca por apoio a Fuad
Lamac avalia que romper com Fuad seria um erro das legendas à esquerda. Para ele, o adversário comum do campo progressista são as forças que considera como “extrema-direita”.
“O PSD participou dessa frente ampla no enfrentamento a esse adversário, e Fuad apoiou o Lula, com quem tem uma relação excepcional”, opina.
Ainda segundo o presidente da Rede em Minas, sua participação na gestão municipal não é fruto de indicação partidária. “Nós temos filiados de todos esses partidos com pré-candidaturas — PT, Psol, e PDT — em cargos estratégicos do governo. Mas veja bem: não são partidos, são filiados. É por um compromisso com o município. Por que interromper esse compromisso se nos reuniremos neste mesmo ponto logo ali na esquina?”, projeta.
O Fator questionou o coordenador nacional de organização da Rede, Giovanni Mockus, sobre a situação de Lamac. Mockus compôs o grupo que esteve em Belo Horizonte com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participar do ato de apoio a Rogério.
“Esse assunto ainda está em discussão na direção municipal e estadual da legenda. Hoje estamos fazendo um movimento importante, com consonância da federação, de apoio à pré-candidatura de Rogério Correia. Ainda temos até o último dia de realização das convenções partidárias, quando são confirmados apoios e deliberadas as candidaturas”, assinala.
Nos bastidores, é considerada a possibilidade de Lamac propor, na convenção da Rede a liberação dos filiados para apoiarem quem quiserem. O modelo se assemelha ao ocorrido em 2022, quando o Psol lançou Lorene Figueiredo ao governo de Minas com o apoio formal da Rede por causa das regras da federação. Na prática, porém, o partido de Lamac caminhou com Alexandre Kalil (PSD).