Concorrida e prestigiada por mais de 40 deputados estaduais, além de vereadores, prefeitos e representantes de órgãos como o Ministério Público, a posse do ex-deputado federal Marcelo Aro (PP) como secretário de Estado de Governo de Minas Gerais, nesta quinta-feira (19), teve a ausência do presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite (MDB). O não comparecimento foi interpretado de formas similares por interlocutores do Parlamento e, também, pelo próprio Aro.
De parte a parte, o entendimento é que o não comparecimento do emedebista é uma forma de reforçar a separação entre Executivo e Legislativo.
Quem também se ausentou da solenidade foi o deputado estadual Gustavo Valadares (PMN), antecessor de Aro na Secretaria de Governo. A O Fator, ele informou que está em viagem e, por isso, não pôde participar.
“Ele (Tadeu Leite) não veio a nenhuma posse de secretário. Seria muito estranho que a primeira posse que Tadeuzinho viesse após dois anos na presidência fosse a minha. Está mais do que compreendido. Eu entendo. Ele não estar aqui é, também, um gesto de independência da Casa — e assim tem que ser”, disse Aro, após o evento, ocorrido no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte.
Na Assembleia, a avaliação é que a ausência de Tadeu Leite reforça um discurso que o presidente já vem adotando. Nessa quarta-feira (18), durante entrevista coletiva, o parlamentar marcou posição pública sobre a questão.
“A Casa não vai ficar fazendo atendimentos da vontade do governo. Esta é uma Casa dos deputados, com independência, mas sempre com muito diálogo e harmonia”, apontou, lembrando que o único cargo na Assembleia cuja indicação compete ao Palácio Tiradentes é o de líder de governo, função hoje exercida por João Magalhães (MDB).
Ao ser questionado sobre as declarações de Tadeu Leite, Aro deu razão ao presidente da Assembleia.
“A fala do presidente Tadeuzinho ontem não poderia ser diferente. Ele está coberto de razão. O único cargo que o governo do estado tem na Assembleia – e que ele mesmo nomeia – é o de líder de governo. O líder de governo é, de fato, escolhido pelo governador de Minas — hoje, (a função) é do deputado João Magalhães. Mas isso não impede que a gente faça os debates com a Casa. Acredito que a relação com o presidente Tadeuzinho vai ser a melhor”, projetou.
A reportagem questionou a assessoria de Tadeu Leite sobre o motivo do não comparecimento à posse de Aro. Ainda não houve resposta, mas o espaço segue aberto.
Pano de fundo
As declarações de Tadeu Leite nessa quarta-feira estão relacionadas a queixas de aliados do governador Romeu Zema (Novo) sobre a composição dos assentos nas comissões e dos postos de liderança na Casa.
Como O Fator mostrou na semana passada, a saída de Valadares do primeio escalão do da gestão Zema Valadares teve, como pano de fundo, o diagnóstico de que o Executivo perdeu espaço em comissões da Assembleia. A escolha de Noraldino Júnior (PSB), parlamentar próximo a Tadeu, para encabeçar uma das coalizões de apoio a Romeu Zema (Novo), também pesou para a decisão.
Tida como o mais importante comitê da Assembleia, a Comissão de Constituição e Justiça é presidida, desde a semana passada, por Doorgal Andrada (PRD), um dos parlamentares mais próximos a Tadeu.
Já a Comissão de Administração Pública (APU) ficou com Adalclever Lopes (PSD), ex-presidente da Assembleia e, até o ano passado, aliado do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (sem partido), com quem Zema já travou brigas públicas. A escolha de Adalclever passou por uma espécie de deferência do comando da Casa a um ex-chefe de Poder.
A tríade formada por CCJ, APU e Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) costuma ditar o ritmo dos trabalhos da Assembleia. Embora não tenha conseguido emplacar deputados de seu “núcleo duro” em CCJ e APU, Zema tem um importante aliado na presidência da FFO: trata-se de Zé Guilherme (PP), reconduzido à função.