Sacramento, o RPG que leva jogadores a um Velho Oeste mineiro

Lançamento da Jambô Editora permite a jogadores comer pão de queijo e viver aventuras em BH, Maria da Fé e Varginha
Capa de 'Sacramento', livro de RPG
'Sacramento': Velho Oeste à mineira. Arte: Theo Biajoni/Jambô Editora/Divulgação

“- Opa, bão?

– Bão”.

O diálogo aparece logo na introdução de Sacramento, livro de RPG lançado pela Jambô Editora em dezembro.

De autoria de Thiago “Calango” Elias e Ramon Mineiro, Sacramento leva os jogadores a um mundo fictício pesadamente inspirado no Velho Oeste americano, mas com vários temperos de Minas.

A tabela de itens – uma tradição em muitos RPGs, incluindo o mais antigo e mais famoso, Dungeons & Dragons – mostra que os personagens dos jogadores podem comprar um bule de café, uma garrafa de pinga, e, obviamente, pão de queijo.

Nada de moedas de ouro: nesta terra valem os réis. O bule de café custa 3 réis, uma garrafa de pinga pode ser encontrada por 25 centavos, e uma porção de pães de queijo custa 1 ou 2 réis.

Jogadores mais interessados em combate podem adquirir outros itens, como pistolas, carabinas, espingardas, e coletes de couro.

A principal cidade do mundo do jogo se chama Belo Horizonte. Fica no sudeste do continente e é famosa por – quem diria – seu porto.

“O Porto de Belo Horizonte é bem movimentado, já que o farol grande e imponente é uma das arquiteturas mais bonitas da capital. Construído sobre um grande compilado de rochas, o farol, feito de tijolos, ilumina a direção que as embarcações devem seguir”, diz trecho do livro.

Em entrevista a O Fator, Calango contou que colocar um porto na BH do RPG foi uma decisão estratégica.

“A gente precisava que a capital do Oeste Selvagem, que é como a gente chama esse universo fictício, fosse ponto de entrada para pessoas que vêm de fora, para estrangeiros” – e quem sabe, também para os personagens dos jogadores que chegam a esse mundo.

“Então, pareceu bem conveniente colocar essa BH ali na costa”.

No horizonte da cidade gelada de Maria da Fé é possível ver até a aurora boreal. Arte: Ariel Nora/Jambô Editora/Divulgação

Além de BH, outros nomes de locais mineiros aparecem nessa Terra-Média de faroeste. A remota e gelada cidade de Maria da Fé fica no norte do continente, perto da Montanha de Gelo e depois da Serra da Saudade.

Ao leste fica Araguari. Ficou conhecida como “Cidade das Viúvas” depois de uma guerra (e as péssimas condições de trabalho dos mineradores) matarem muitos homens.

E ao noroeste, à beira da Floresta do Céu, fica a montanhosa Varginha. Perto dali está a Aldeia dos Celestes, um povo que vive em harmonia com a natureza.

Segundo Calango, o toque do folclore mineiro está mais nas entrelinhas do que explicitamente no cenário.

“Não tem nada muito detalhado ou escrito que envolva o folclore brasileiro, mas como o jogo é ambientado em um lugar fictício inspirado em Minas Gerais, as pessoas meio que entendem isso inconscientemente”, disse. Por exemplo, os coiotes do livro, que podem atacar ferozmente os jogadores, têm forte semelhança com o nosso lobo-guará.

O livro tem poucos elementos sobrenaturais, comuns nos RPGs. Os personagens dos jogadores não são capazes de aprender feitiços ou magia. A ambientação fica assim mais próxima do jogo Red Dead Redemption 2 (2018), uma espécie de GTA do Velho Oeste e grande inspiração para Sacramento. Os dois westerns de Tarantino, Django Livre (2012) e Os Oito Odiados (2015), também estão entre as influências.

Para Calango, foi natural conectar o Velho Oeste a Minas Gerais. Arte: Anderson “Jackal” Costa/Jambô Editora/Divulgação

Sacramento nasceu da fusão de dois trabalhos diferentes. Ramon Mineiro criou um sistema de regras chamado O Som das Seis. Calango adotou o sistema em uma campanha – uma série de partidas com os mesmos jogadores e personagens, que funciona como uma espécie de seriado e é como a maioria das pessoas joga RPG. Natural de Uberlândia, Calango tem 25 anos e transmite ao vivo no YouTube as partidas de seus jogos.

Embora Ramon seja o principal autor das regras e Calango o do cenário, o livro foi mesmo escrito a quatro mãos. Eles não se conheciam antes de fazer o livro.

“O Ramon ajudou bastante no cenário, a rechear algumas coisas, a terminar de polir algumas localizações que eu escrevi, e da mesma forma também acabei influenciando muito nas regras”, contou Calango.

“Por mais que o Velho Oeste só tenha acontecido nos Estados Unidos, eu sempre gostei muito de trazer as coisas para nossa realidade”, acrescentou.

“Para mostrar para as pessoas que fazer coisas em português, fazer no Brasil, pode ser tão legal quanto um cenário ambientado lá fora. E conectar o Velho Oeste com Minas Gerais foi meio instintivo – na minha cabeça foi meio automático”.

O RPG, diz ele, é um jogo atemporal, que todo mundo pode experimentar, e um ótimo exercício para a imaginação. “Eu costumo falar que RPG é como ler um bom livro, que você vai ler e ver aquele filme na sua cabeça. E no jogo você pode brincar de fazer as próprias histórias, e eu acho isso muito valoroso para quem gosta de assistir a filmes e flerta com a ideia de talvez fazer seu próprio filme”.

Para Calango, há um gostinho de Velho Oeste em sua Uberlândia natal, “um negócio mais rural, né, uma atmosfera mais terrosa”.

“Da mesma forma que tinha um gostinho de Uberlândia no Velho Oeste”.

Divulgação/Jambô Editora

Sacramento RPG. Thiago “Calango” Elias e Ramon Mineiro. Jambô Editora. 272 páginas. R$89,90 (versão digital) ou R$219,90 (capa dura).

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