A declaração do ditador Nicolás Maduro nesta semana de que o partido de oposição Vente Venezuela é um “movimento terrorista” deixa apenas mais claro o que já era óbvio há muito tempo: o Acordo de Barbados foi uma enganação.
Mediado pela Noruega e apoiado pelo Brasil, o acordo entre o governo Maduro e a oposição foi assinado em outubro de 2023, em tese para garantir eleições livres e justas na Venezuela.
O texto diz que as partes respeitam “o direito de cada ator político de escolher livremente o seu candidato para as eleições presidenciais e de acordo com os seus mecanismos internos”.
Acontece que nessa época já se sabiam duas coisas:
Primeiro, María Corina Machado, a principal líder da oposição nas pesquisas de intenção de voto, já tinha sido declarada inelegível (em junho).
Segundo, o governo Maduro já tinha anunciado (em setembro) o famoso referendo sobre a anexação de Essequibo, a maior parte da Guiana – indicando que queria comprar briga tanto fora quanto dentro.
Os países apoiadores do Acordo de Barbados pouco ou nada fizeram para garantir que ele fizesse diferença.
Dias depois do acordo, María Corina Machado venceu as primárias de seu partido. Não adiantou nada: em janeiro deste ano, a Suprema Corte venezuelana confirmou a inelegibilidade, o que irritou os Estados Unidos e levou o governo Biden a reinstalar sanções.
A oposição então substituiu María Corina Machado por outra candidata, Corina Yoris. Também não adiantou: ela não conseguiu se registrar.
A declaração do Itamaraty de Lula nesta terça (26) de “expectativa e preocupação” com a eleição na Venezuela é covarde: nem chama Corina Yoris pelo nome, referindo-se à “candidata indicada pela Plataforma Unitaria”.
No começo do mês, em coletiva ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Lula disse: “tenho certeza que a Venezuela sabe que ela precisa de uma eleição altamente democrática”. Ele disse que a Venezuela sabe, não que vai.