Primeiro, queria começar agradecendo à equipe do O Fator por esse espaço. Não é todo dia que um jovem do Lindéia escreve sobre política em uma mídia de tamanho destaque dentro do establishment político, fico muito feliz com o convite e espero poder contribuir com o debate público da nossa capital.
Escrevo esta coluna no fim da minha primeira semana de votações na Câmara Municipal e reafirmo o que disse no plenário: precisamos discutir os problemas reais de Belo Horizonte.
Quem, como eu, esperava um debate sério sobre transporte, adaptação climática, saúde, inovações no setor público e outros temas que impactam diretamente a vida da população, se frustrou. O que tivemos nessa primeira semana? Uma discussão interminável sobre bonés coloridos com frases de efeito, poucos projetos na pauta e inconstitucionalidade.
No primeiro dia, não houve votação. No segundo, os vereadores se revezaram para defender a cor do seu boné. Para quem não sabe do que se trata, a nível nacional, deputados da base e ministros de estado confeccionaram bonés com a frase “o Brasil é dos brasileiros” na tentativa de constranger a oposição que, inflada pela eleição do presidente Trump, nos Estados Unidos, têm usado com frequência o famoso boné que promete fazer a américa grande outra vez. A Câmara Municipal de BH resolveu importar o acontecido em Brasília. No terceiro dia, uma confusão generalizada sobre um projeto claramente inconstitucional. Mesmo reconhecendo toda a altivez da câmara de vereadores, não me pareceu razoável ficar acima da constituição. No quarto e quinto dia, novamente, nenhum projeto.
O que quero destacar aqui é que, nesta legislatura, teremos debates fundamentais: um novo contrato de ônibus, alterações no plano diretor e, espero, projetos que enfrentem os problemas crônicos da nossa capital.
E a verdade é que a ideologia não anda de ônibus. Quem usa o transporte público, quem enfrenta a falta de infraestrutura na cidade, quem sofre com a precariedade da saúde pública, escolheu representantes municipais para trabalhar por soluções, não para produzir brindes personalizados a cada palavra emitida pelo seu político de estimação.
Não gosto de máximas, mas algumas delas existem e uma que é jargão entre os gestores públicos é que “Ninguém mora na União”. Quando um serviço público não funciona, a população não bate à porta do governador ou do presidente da República – ela recorre ao vereador, o agente político mais próximo do povo, e é nossa responsabilidade dar respostas concretas e sempre lembrar que essa não é a “Câmara Federal de Belo Horizonte”
E antes que interpretem errado, não estou aqui para dizer a ninguém o que fazer. Existe espaço para a ideologia no parlamento, e deve existir. O que não pode acontecer é ela se tornar um bloqueio para a discussão dos problemas reais de Belo Horizonte. Porque esses problemas afetam todos nós. É hora de levar a política a sério. Levar a nossa cidade a sério.