Primeiro turno finalizado, urnas apuradas e resultado definido no último domingo: Fuad Noman e Bruno Engler se enfrentarão no segundo turno da eleição para prefeitura de Belo Horizonte. Agora é a hora da responsabilidade com o futuro da capital mineira: todas as forças democráticas devem colocar as diferenças de lado, e se unir em uma frente ampla para apoiar o candidato moderado do centro político – ou seja, o atual prefeito – contra o extremismo ideológico representado por seu adversário.
Fuad pode não ser o prefeito dos sonhos, nem inspirador da confiança de que promoverá todas medidas necessárias que Belo Horizonte precisa para se tornar uma cidade mais desenvolvida, sustentável, justa e inclusiva nos próximos quatros anos. No entanto, é inegável que é um gestor experiente e um político moderado, aberto ao diálogo, seja com a esquerda, seja com a direita.
Nos seus pouco mais de dois anos e meio à frente do poder executivo de Belo Horizonte, a coalizão que o sustentou abrangeu figuras progressistas, liberais e conservadoras. Foi um aliado, por exemplo, da luta pela preservação da Serra do Curral, da agenda pela diversidade e inclusão, de obras de mitigação dos eventos climáticos extremos, e da expansão e do fortalecimento de serviços públicos sociais – como EMEIs e centros de saúde. Deixou a desejar na mobilidade urbana, por outro lado, e houve cobranças justas, durante esse debate eleitoral do município, de que o contrato com as empresas de transporte público deve ser revisto, ou, pelo menos, melhor elaborado para a próxima licitação que ocorrerá em 2027, de modo que seja prestado um atendimento de qualidade aos usuários desse serviço público.
O fato é que com Fuad há possibilidade de diálogo e de disputa sobre os rumos da prefeitura. O mesmo não pode ser dito sobre seu rival desse segundo turno. Apesar de jovem, Bruno Engler é um defensor radical de uma ideologia reacionária e obsoleta. Nos seus quase seis anos como deputado estadual, colecionou polêmicas desnecessárias: do elogio ao golpe militar de 1964, à contestação das urnas eletrônicas e da eleição democrática de Lula até o enfrentamento do espantalho da “ideologia de gênero”. No seu plano de governo para prefeitura registrado no Tribunal Superior Eleitoral, inclusive, ele ostenta como motivo de orgulho que combateu a tal “ideologia de gênero”, que nada mais é que um moinho de vento da extrema-direita para confundir a população na guerra cultural conservadora contra agendas de reconhecimento de direitos de minorias e também das políticas públicas de inclusão e respeito relacionados à diversidade sexual.
Engler, apesar do figurino supostamente moderado que vestiu em suas propagandas eleitorais, também é um dos mais vocais representantes da extrema-direita que tentou subverter a democracia brasileira em 2022. Alguns leitores podem dizer, com razão, que um prefeito não tem poder para influenciar nos destinos da democracia e ele será freado pelas demais instituições do país. Todavia, sua eleição seria uma forma de premiar esse radicalismo ideológico que tomou conta do país, ao invés do tão necessário movimento de distensionamento que precisamos para diminuirmos a temperatura da polarização tóxica existente.
Além do mais, se eleito prefeito, em 2026, poderá oferecer Belo Horizonte como palanque eleitoral para a extrema-direita mineira e nacional. Caso se repitam as cenas dantescas de contestação da democracia e tentativa de golpe que assistimos em 2022, é possível presumir que ele não ajude a combater, como feito por Fuad no início de 2023, muito pelo contrário: que irá colocar lenha na fogueira, como já fez no penúltimo processo eleitoral. Fuad foi um dos primeiros prefeitos do Brasil, torna-se importante ressaltar, a desmontar os acampamentos golpistas, por atentarem contra a legislação urbanística da capital.
Com todas suas contradições, Fuad foi um importante aliado da defesa da democracia no Brasil e, com seus erros e acertos, também um gestor razoável de Belo Horizonte. Sua reeleição poderá oferecer uma lição que vai muito além da nossa urbe: a de que a moderação e o diálogo, não o extremismo histriônico, são valorizados pelo eleitor. Reeleito, poderemos cobrar a adoção de medidas para que Belo Horizonte seja uma cidade economicamente próspera, socialmente justa e ambientalmente sustentável.