A discussão está posta, e não adianta esbravejar. É assim em praticamente todas as eleições, o que, a meu ver, é lastimável. Votar em um candidato para impedir a vitória de outro, ou votar tendo como meta, não a eleição do melhor, mas do menos pior, é muito triste. Mas é assim em qualquer lugar. Na falta de qualidade, opta-se pela menor mediocridade ou a irrestrita rejeição, como costumo fazer nestes casos.
O voto é o único momento em que, como cidadão esquecido, pisoteado, humilhado e assaltado pelo Poder Público, tenho domínio da situação. Por alguns segundos são os políticos e governantes que se submetem à minha vontade e decisão, e não o contrário como nas demais horas e dias das nossas vidas. A organização em sociedade pressupõe governos; e os governos mandam e nós obedecemos.
Mas nas urnas, não. Nenhum vereador e prefeito, deputado e senador, governador e presidente, juiz, desembargador e ministro dão pitaco ou mandam em mim. Quem escolhe sou eu. Inclusive, escolhendo não escolher, escolhendo rejeitar. Lula ou Bolsonaro? Casa, churrasco e Netflix. Minha escolha foi nenhum dos dois! Só sabujos ignorantes podem chamar isso de “isentão”. E que me perdoem a ofensa.
Esquerda unida?
A eleição municipal em BH continua totalmente imprevisível e indefinida. Segundo a maioria absoluta das pesquisas, Mauro Tramonte (Republicanos), Bruno Engler (PL) e Fuad Noman (PSD) lideram a corrida eleitoral. O apresentador de TV tem vantagem sobre os demais, mas absolutamente ninguém crava sua ida para o segundo turno. E o deputado estadual e o prefeito, muito menos. Vai ser… voto a voto.
Por isso, vem se intensificando no campo progressista a ideia de voto útil em Fuad Noman. Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT) estão fora do jogo faz tempo. Assim, para impedir um segundo turno entre candidatos bolsonaristas, conservadores, de direita etc. os eleitores de esquerda deveriam migrar os votos para a única candidatura de centro, ou centro-esquerda, capaz de rivalizar.
É legítimo? Claro. É inteligente? Óbvio. Assim como ocorreu em 2022, entre Lula e Bolsonaro, e em 2018, entre Haddad e Bolsonaro. Ou não? Aliás, é o que irá ocorrer em São Paulo. Belo Horizonte fica em outro planeta? O voto útil só é válido em favor do candidato de estimação? Não entendo a ira da direita por este movimento na reta final de campanha. Unam-se, esquerdas, ou chorem depois.
“E você, Ricardo?”
Eu? Bem, meus candidatos sempre foram Gabriel Azevedo (MDB) e Fuad Noman. Nunca escondi de ninguém. Aliás, nunca escondi meus votos. Não trabalho em serviço público nem muito menos dependo de qualquer centavo de dinheiro estatal. Não sou filiado a nenhum partido e não milito em qualquer campo. E minha independência política sempre foi minha principal marca na Comunicação.
Votarei com gosto e por afinidade intelectual no primeiro turno. No segundo, se meus candidatos por lá não estiverem, não votarei. “Ah, Ricardo, mas você é antibolsonarista e deveria votar no Tramonte contra o Engler”. Nem fodendo! Nada contra o candidato, e tudo a favor de sua vice, Luísa Barreto, aliás, mas onde Alexandre Kalil pisa e manda, eu me afasto, e desprezo quem ao lado dele se mantém.
“Ah, Ricardo, você deveria votar no Engler, para impedir a vitória do Tramonte/Kalil”. De novo: nem fodendo! Tenho asco de boa parte das pautas que Bruno Engler defende e mais asco ainda de suas companhias políticas, notadamente Jari Bolsonaro e Nikolas Ferreira, dois representantes ferrenhos de coisas que me enojam. Na falta de predileção, não sigo a rejeição. Ou melhor, rejeito meus rejeitados.
Encerro
Ou eu voto em quem quero, ou não voto. E, sinceramente, acho que todos deveriam agir assim. Gosta do Fuad? Vote nele e pronto. Gosta do Bruno? Vote nele e pronto. Gosta do Mauro? Vote nele e pronto. Não gosta de ninguém? Vá tomar uma e não vote. Mas prefere votar em um candidato para impedir a vitória do outro? Então faça isso. O voto é seu, cazzo! A utilidade tem de ser sua. Não de político ou patrulheiro de partido. Voto útil é aquele que vai te deixar em paz. Simples assim