Milhões de corações no mundo batem com a saudade de uma terra que talvez nunca tenham pisado, mas que carregam no sangue, no nome, nos gestos, no molho do domingo e até no jeito de falar com as mãos.
Com o novo decreto assinado pelo ministro Antonio Tajani, o direito à cidadania italiana iure sanguinis passa a ser limitado apenas à segunda geração. Na prática, fecham-se as portas para descendentes legítimos — homens, mulheres e crianças — que mantêm viva a italianidade em terras distantes, mas cujo vínculo com a Itália é tão real quanto os paralelepípedos de Roma ou as águas de Veneza.
Existe uma Itália fora da Itália.
Uma Itália que fala português, espanhol, inglês… mas que sonha em italiano.
Uma Itália espalhada pelos continentes, que honra seus bisavós, cultiva tradições, celebra festas populares, constrói igrejas com nomes de santos italianos, canta “Volare” nos almoços de domingo e se emociona ouvindo “Caruso”.
Essa Itália fora da Itália não é invisível.
Ela pulsa. Vive. E ama profundamente suas raízes.
Impedir que esse amor se concretize em cidadania é cruel. É negar a própria essência de um país que exportou filhos e filhas para o mundo, não por escolha, mas por necessidade. Esses descendentes mantiveram a chama acesa. O decreto corre o risco de apagá-la. É como dizer a um neto que ele não faz mais parte da família só porque cresceu longe da casa do avô.
O ius sanguinis não é um capricho.
É o reconhecimento de uma pertença.
É um abraço entre gerações separadas pelo mar, mas unidas pela memória e pelo afeto.
Se for necessário garantir que esse amor venha acompanhado de respeito e envolvimento cultural, que se exija o nível B1 da língua italiana. Sim, que se peça comprometimento — mas não se fechem as portas para quem traz no coração uma pátria que vive nos relatos de família, nos documentos amarelados e nos olhos marejados de cada nonna.
Limitar a cidadania é limitar o potencial da própria Itália. É abrir mão de milhões de embaixadores voluntários de sua cultura, de sua beleza, de seu povo.