O pedido de recuperação judicial do Grupo Coteminas, iniciado na última semana, segue dando o que falar. A companhia têxtil elencou, em petição enviada ao Judiciário, diversos motivos para o colapso financeiro. A dívida bruta da empresa ultrapassa R$ 2 bilhões e envolve o pagamento a mais de 15 bancos.
O Fator conversou com o advogado da empresa, Bernardo Bicalho. Ele detalhou os motivos e desafios do processo. O profissional definiu a recuperação judicial como um “remédio amargo”.
Desafios
O primeiro desafio do pedido de recuperação judicial está no local de tramitação. Dois credores do processo alegam que o processo não deve ser julgado em Belo Horizonte, e sim em São Paulo, diante de anterior pedido de falência do Grupo Coteminas. O MP opinou pelo julgamento na capital paulista e a recuperação está suspensa até que uma decisão seja tomada.
A manutenção do processo em BH é essencial para a Coteminas: “Isso é um atendimento à lei, não é questão de preferência. O processo deve tramitar em Minas para cumprir os requisitos legais”, explica o advogado.
Bicalho, contudo, afirma que nenhum credor trabalhista será prejudicado se o processo for encaminhado para São Paulo.
Motivos
Os impactos financeiros da empresa começaram em 2008 com as mudanças no mercado global. “A moeda brasileira apresentou valorização frente ao dólar. Isso provocou a drástica redução das exportações. A empresa passou a operar com 60% de ociosidade da capacidade instalada”, explica Bicalho.
A redução provocou queda nos preços de venda a fim de aumentar a participação da empresa no mercado têxtil brasileiro e garantir a manutenção de empregos. Na época, o Grupo Coteminas tinha 11 mil funcionários.
A pandemia de covid-19 é, para Bicalho, o principal motivo do colapso financeiro: “A Coteminas reduziu suas operações industriais e consumiu todo o capital de giro disponível para manter suas obrigações”, acrescenta.
Crise
O advogado enxerga uma crise no setor varejista brasileiro: “Fator desencadeado por fatores como a alta taxa de juros e aumento da carga tributária. Para se ter uma ideia, observamos um aumento de 70% nas empresas que entraram em recuperação judicial desde 2022”, explica.
Apesar de necessária, a RJ gera prejuízos ao empresário. “A empresa perde a confiabilidade, perde valor de mercado. Nenhum chefe quer isso, mas é necessário”, comenta.
Bicalho se mostrou confiante na recuperação do Grupo Coteminas: “Eu acredito 100% que ela tem a capacidade de apresentar um plano concreto e resolver a situação. Temos executivos de alta qualidade”, disse.