A Justiça Federal em Belo Horizonte recebeu denúncia do Ministério Público Federal contra três pessoas acusadas de envolvimento com organização terrorista e outros crimes. A decisão, obtida por O Fator, foi tomada pela juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima, da 2ª Vara Federal Criminal.
Foram denunciados o sírio naturalizado brasileiro Mohamad Khir Abdulmajid, o libanês Hussein Kourani e o brasileiro Dante Felipini. Segundo a denúncia, eles teriam praticado crimes como contrabando, lavagem de dinheiro e ligação com organização terrorista.
A investigação teve início após memorando do FBI encaminhado através da Embaixada dos EUA no Brasil em outubro de 2023. O documento apontava que indivíduos brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil teriam conexões com atividades terroristas na América Latina, Europa e Oriente Médio.
De acordo com a decisão judicial, Mohamad Khir Abdulmajid é acusado de contrabando, lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. A investigação aponta que ele teria utilizado documentos do irmão Hussain Abdulmajid para abrir empresas e realizar operações financeiras.
Dante Felipini, que está preso preventivamente no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos II em São Paulo, foi denunciado por lavagem de dinheiro e envolvimento com organização terrorista. Já Hussein Kourani responde por ligação com grupo terrorista.
A juíza determinou a citação por edital de Mohamad Khir Abdulmajid, que está em local incerto desde novembro de 2023, quando foi deflagrada a primeira fase da Operação Trapiche. Segundo registros migratórios, ele teria saído do Brasil em 18 de outubro de 2023 com destino a Beirute, no Líbano.
Para Dante Felipini e Hussein Kourani, a magistrada determinou a citação pessoal e designou audiência de instrução e julgamento para os dias 27 e 28 de novembro, quando serão ouvidas oito testemunhas de acusação.
A operação que resultou nas denúncias envolveu investigações da Polícia Federal sobre um suposto esquema de contrabando de cigarros eletrônicos e transferências financeiras suspeitas, que teriam conexão com atividades terroristas segundo o FBI.
Falsidade ideológica e empresas de fachada
Durante a investigação, a PF identificou fortes indícios de que Abdulmajid estaria se passando por seu irmão, Hussain Abdulmajid, para abrir empresas e realizar operações financeiras. Uma das evidências seria o uso da CNH do irmão com a foto de Mohamad, caracterizando possível crime de falsidade ideológica.
As investigações apontam a existência de pelo menos três empresas ligadas a Abdulmajid em Belo Horizonte, todas tabacarias, que poderiam estar sendo usadas para movimentar recursos de origem suspeita. São elas:
- Tabacaria do Hussein
- Tabacaria dos Árabes
- Mundo Eletrônico (já inativa)
Uma dessas empresas, a Tabacaria do Hussein, teria tido alterações em seu contrato social em data em que Abdulmajid supostamente estava fora do país, reforçando as suspeitas de uso de documentação falsa.
Viagens suspeitas ao Líbano
Outro ponto que chamou a atenção dos investigadores foi a realização de viagens consideradas suspeitas ao Líbano por parte de brasileiros ligados a Abdulmajid. Entre eles estão:
- J. C. S.: realizou 3 viagens ao Líbano nos últimos 10 meses, apesar de não possuir vínculos empregatícios ou empresas ativas.
- M. M.: viajou duas vezes ao Líbano, uma delas acompanhado da esposa, apesar de morar em uma comunidade do Rio de Janeiro e não ter renda formal.
- L. P. L.: também realizou viagem ao Líbano em condições consideradas suspeitas.
Segundo a PF, essas viagens, considerando a rotina e situação financeira dos envolvidos, levantam suspeitas sobre possíveis atividades ilícitas e se assemelham ao modus operandi utilizado por organizações terroristas.
Conexões internacionais
A investigação também aponta possíveis conexões dos suspeitos com o Irã. Em uma das fotos encontradas nas redes sociais de Abdulmajid, ele aparece ao lado do irmão em um local que parece ser o mausoléu dedicado a Ruhollah Khomeini, líder espiritual e político da Revolução Iraniana de 1979, em Teerã.
Além disso, foram identificadas pela PF diversas postagens com críticas a Israel e aos Estados Unidos, e apoio aos palestinos, o que reforçou as suspeitas de ligação com grupos extremistas.