Uma conjunção de fatores assola o mercado de trabalho brasileiro e, sim, mundial, mas meu quintal é aqui, é Belzonte e New Lime, e é sobre isso que temos de falar.
Sobretudo após a maldita pandemia do novo coronavírus, diversos setores da economia vêm sofrendo com a constante falta de mão de obra, principalmente a qualificada.
Segmentos como o comércio e a construção civil, altamente dependentes da captação de novos profissionais – dos menos aos mais qualificados – encontram-se engessados ou pela precariedade dos trabalhadores ou pela absoluta ausência deles.
Nem pagando bem
A economia informal que explodiu, os trabalhos remotos que tornaram-se comuns e a abundância de aplicativos de entregas cada vez mais frequentes contribuem sobremaneira para o déficit de trabalhadores formais. A histórica má-formação escolar, idem.
Tais condições, agravadas por sucessivos aumentos nos valores dos programas assistenciais do Estado, tornaram a oferta de vagas maior que a procura, levando muitos negócios à paralisia ou mesmo ao fechamento.
Não menos dramático é o impacto na inflação, já que os salários subiram bastante e os repasses de custos foram imediatos. Não são raras as diárias de trabalho que ultrapassam R$ 400 para pedreiros e R$ 250 reais para diaristas domésticas.
Perde e ganha
O que poderia ser comemorado pelos trabalhadores – receber bons salários por seus preciosos esforços – tem sido eliminado pelo alto custo dos alimentos, dos combustíveis, da energia e de quase tudo atualmente no Brasil.
Outro aspecto nada desprezível nesta equação perversa, que afasta potenciais trabalhadores das ofertas desesperadas de emprego, é a mobilidade – ou a falta dela. No cálculo para se sair de casa, além do salário e custos envolvidos (transporte, alimentação, creche etc.), está o tempo de deslocamento entre a casa e o emprego.
Ora, se somados os auxílios estatais e os “bicos” perto de casa a conta for igual ou pouco menor que o salário oferecido na obra, no comércio ou na casa de família, para que enfrentar duas, três horas diárias, espremido em um lotação para ir trabalhar nestes locais?
Ir e vir é preciso
Qualquer patrão ou patroa adoraria poder pagar mais e vencer essa concorrência desleal, mas a carga tributária confiscatória – algo como 35% do PIB – e uma lista infinita de encargos e obrigações trabalhistas geralmente os impedem, e mesmo quando conseguem empatar o jogo, o trânsito caótico desempata em seu desfavor.
Você que é comerciante e construtor e atua na região do Belvedere, em Belo Horizonte, e Vale do Sereno, em Nova Lima, e todas as donas de casa da região conhecem bem este drama. Hospitais e escolas, idem, já que não conseguem enfermeiros e outros profissionais.
A qualidade de vida dos moradores e trabalhadores destes bairros precariza-se cada vez mais. Já não há dia, hora ou local. Os congestionamentos bizarros são onipresentes e vencer três ou quatro quilômetros de distância costuma levar de 30 a 40 minutos da saúde física e mental de todos.
Caso de vida ou morte
Já não se discute se ou quando, pois o colapso da mobilidade já chegou. A questão agora é matemática: qual o prejuízo causado no comércio, o impacto nos custos da construção civil, o preço dos fretes e dos serviços na região, a perda de valor imobiliário (metro quadrado)?
Mais importante ainda, pois imaterial, é o número trágico de pessoas que não conseguem acessar os hospitais da região para um atendimento de urgência. Uma criança com o braço quebrado, chorando dentro de um ônibus lotado, vindo de Nova Lima, Rio Acima ou Raposos, não entra nessa conta. Ou mesmo um idoso, morador de um dos condomínios do local, com obstrução pulmonar ou dor aguda no coração.
Estou enviando, pessoalmente, o link desta coluna para os prefeitos de Belo Horizonte e Nova Lima, para os vereadores das duas cidades, para as autoridades públicas municipais, estaduais e federais, e também para os responsáveis pelas associações de moradores que hoje, por egoísmo, ideologia ou mero interesse pessoal, alinharam-se a políticos como a deputada federal Duda Salabert, que jamais se preocupou com o Belvedere e Nova Lima, nesta cruzada insana contra as obras de melhorias viárias que poderiam atenuar – e muito! – o sofrimento diário de milhares de cidadãos.