Detesto pegar carona em assuntos passados – ainda que nem tão passados assim – no caso, uma treta desta última sexta-feira (10). Lembrei-me de Raul Seixas: “pegar carona numa cauda de cometa”. Isso aí. Detesto ser cauda; prefiro a rocha.
Aécio Neves apareceu – ou reapareceu -, do jeito errado, como um abutre. Destes que sobrevoam carne podre, ao modo de certos bolsonaristas (os de sempre, aliás) sobre a tragédia no Rio Grande do Sul. Gente cretina, credo.
Aquele que mataria o primo da mochila de 2 milhões de reais resolveu apontar o dedo acusador para Romeu Zema por conta do absurdo, inaceitável e surreal caso dos elevadores da Cidade Administrativa. Logo quem, né?
Sim. É profundamente lamentável o episódio. E talvez seja mesmo – em alguma medida – responsabilidade do governador e de sua secretária, Luísa Barreto, a aberração de ter o funcionalismo do Estado impedido de trabalhar presencialmente.
NOTA OPORTUNISTA
A este O Fator, em nota enviada por sua assessoria, o deputado afirmou: “… recentemente, a questão dos elevadores foi apontada e não houve agilidade administrativa, da atual gestão, para se resolver a questão”. E continuou:
“Demora e ineficiência que prejudicam o funcionamento dos órgãos estaduais, seus funcionários e a população… Passou da hora de o atual governo começar a trabalhar e apresentar solução para esse e outros inúmeros problemas por que passa o Estado”.
Olhem só: sou viúva confessa dos tucanos, admito. Não que tenha militado no PSDB ou coisa parecida, mas sempre me identifiquei com a social democracia. E continuo, aliás. Considero a melhor, ou a menos pior, linha ideológica política.
Igualmente, e não é segredo para ninguém, sou diametralmente oposto ao lulopetismo – desde sempre, diga-se. Após o surgimento do hediondo bolsonarismo (argh!), reforcei minhas convicções antiextremistas. Para os imbecis, por isso, sou “isentão”.
DECLARAÇÃO À ALTURA
Depois da profunda decepção com os fatos públicos e notórios, envolvendo Aécio Neves, atirados nas nossas fuças pela Operação Lava Jato, passei não apenas a descrer totalmente neste sujeito, como a lhe ter profunda ojeriza.
Neste sentido, o vice-governador Mateus Simões pontuou (sobre os elevadores): “é inacreditável que se defenda que não há ligação entre desvio de dinheiro, já identificado, superfaturamento, já identificado, e a falta de qualidade construtiva”.
E fulminou: “É inadmissível que os agentes públicos, políticos e privados responsáveis por essa obra, que colocaram em risco servidores e população, não sejam responsabilizados”, lembrando o acordo de leniência da empresa que confessou o esquema de corrupção.
Bingo! Como o responsável pelo estado lastimável de um equipamento público bilionário acredita-se no direito de cobrar responsabilidades justamente por aquilo que realizou? A Cidade Administrativa é um filho feio com paternidade definida: Aécio Neves.
ENCERRO E BOA SEMANA
Como Lula, o deputado obteve importantes vitórias judiciais que lhe garantiram viver em paz, livre, leve e solto. Contudo, como o presidente, assiste à sua reputação e credibilidade destruídas para sempre – haja vista a pífia votação que recebeu para deputado.
Repito: não dá para isentar de algum tipo de responsabilidade o atual governo. Não pela obra mal feita, mas pela incapacidade de uma resposta eficaz. Aliás, tal fato, praticamente enterra a pré-candidatura de Luísa Barreto à Prefeitura de Belo Horizonte.
Em esterco, quanto mais se mexe, mais ele fede. O passado de Aécio Neves é mau cheiroso. Ao revolver sua obra superfaturada, tentando atingir o governo Zema (Aécio aspira disputar o Palácio Tiradentes em 2026), rebaixou-se ainda mais.
Um simples “teste das ruas” mostraria ao ex-todo-poderoso tucano seu tamanho político. O “teste do Congresso”, aliás, lhe mostra todos os dias (quando está por lá, é claro). Ao tentar lacrar sobre algo que também é culpa sua, deu um verdadeiro tiro no pé.