Nesta segunda-feira, 18 de novembro, celebramos o Dia de Aleijadinho, data que marca o aniversário de morte de um dos mais importantes artistas da história brasileira. Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, nasceu na cidade mineira de Vila Rica, atual Ouro Preto, em 1738. Filho do português Manuel Francisco Lisboa, mestre de carpintaria que chegou a Minas Gerais em 1728, e de Isabel, uma mulher negra escravizada, Aleijadinho personifica a síntese da miscigenação que caracteriza a identidade brasileira.
Sua ascendência africana influenciou profundamente sua obra, refletindo a fusão de culturas europeias e africanas em suas criações artísticas. Enfrentando as adversidades sociais e físicas de sua época – já que sofria de uma doença degenerativa que lhe causou deformidades – Aleijadinho superou barreiras raciais e tornou-se o maior expoente do barroco brasileiro. Fundou em Minas Gerais a maior escola de arte barroca das Américas, deixando um legado que transcende fronteiras.
Desde a Idade Média, e especialmente durante o Renascimento, o homem europeu buscou reproduzir a realidade como uma forma fechada e equilibrada, centrada em um eixo capaz de harmonizar as partes. Essa busca por equilíbrio serviu como embrião para a ideia de miscigenação na história latino-americana, frequentemente associada ao nosso barroco. No contexto brasileiro, o barroco mineiro emerge não apenas como um estilo artístico, mas como a expressão de um povo insatisfeito com os mandos da metrópole, evidenciado pela Inconfidência Mineira originada em Ouro Preto.
Aleijadinho insere-se nesse cenário, explorando em suas obras questões que escapam da figura humana tradicional. Seu trabalho reflete um excesso retórico do barroco que busca não apenas exprimir a vida, mas também transcender as adversidades dela. Suas criações, presentes em igrejas e santuários como o de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas, são testemunhos da riqueza cultural resultante da mistura de povos.
Em Ouro Preto, o barroco é o teatro que projeta a condição humana em sua busca pelo divino. As igrejas, distribuídas em diferentes cotas, dialogam com a paisagem acidentada, conduzindo o espírito humano em direção à transcendência. Essa integração entre arquitetura e natureza reflete o “Genius Loci”, conceito que enfatiza a importância do espírito do lugar na compreensão do espaço arquitetônico.
A paisagem mineira, com suas igrejas brancas contrastando com a vegetação exuberante, transforma-se em um palco onde a religiosidade permeia a vida do indivíduo. As procissões, os passos e as cruzes na malha urbana ilustram como a espiritualidade está presente no cotidiano, conforme destacado por Murillo Marx.
As Ordens Terceiras desempenharam um papel crucial nesse contexto, organizando a construção de igrejas e fortalecendo uma urbanidade peculiar. Livres da tutela direta da Igreja oficial, essas irmandades incentivaram a criação de espaços que refletiam as aspirações locais. Aleijadinho, descendente de africanos e europeus, inserido nesse ambiente, contribuiu significativamente para a transformação do espaço urbano, estabelecendo novas referências culturais e estéticas.
O legado de Aleijadinho evidencia como a miscigenação é fundamental para a identidade brasileira. Sua vida e obra personificam essa síntese cultural, demonstrando que a diversidade é fonte de criatividade e riqueza. Ao celebrarmos o Dia de Aleijadinho em 18 de novembro, honramos não apenas seu talento excepcional, mas também sua contribuição para a formação de nossa sociedade e a valorização de nossas raízes multiculturais.