Eleições BH 2024: comento a pesquisa O Fator/Ver

Esta promete ser uma das mais disputadas eleições dos últimos anos; Fuad e Tramonte despontam
Mauro Tramonte Bruno Engler Fuad Noman
Mauro Tramonte, Bruno Engler e Fuad Noman encabeçam disputa pela Prefeitura de BH (Foto: Willian Dias/ALMG + Luiz Santana/ALMG + Rodrigo Clemente/PBH)

A pesquisa O Fator/Ver divulgada nesta terça-feira (16) sobre as eleições municipais em Belo Horizonte traz dados muito interessantes e que merecem comentários a respeito. Fuad Noman, atual prefeito de BH, lidera na pesquisa espontânea. Mauro Tramonte, deputado estadual, lidera na pesquisa estimulada. Seis em dez eleitores não sabem em quem votar. E figurões tradicionais da política local rumam para o “nanismo” eleitoral.

É indiscutível o cenário de grande imprevisibilidade, haja vista 63% dos eleitores, espontaneamente, não manifestarem voto em quaisquer pré-candidatos. Minha dúvida é sobre o motivo: desinteresse, revolta, desconhecimento, falta de identificação? Intuo que um pouco de cada coisa, mas principalmente o fato de a pré-campanha mostrar-se ainda fria, o que não é necessariamente ruim (prefiro certo equilíbrio à briga de foice).

Fuad Noman

Fuad Noman (PSD) tende a crescer e chegar com força ao segundo turno. Com o início da campanha eleitoral, poderá mostrar a boa gestão nestes pouco mais de dois anos à frente da Prefeitura. Os números e dados – além de prêmios – são significativos e serão mostrados aos eleitores. O atual prefeito terá cerca de 40% do tempo total de propaganda de rádio e TV, e cerca de 70% dos eleitores se informam por estas plataformas.

Em seu favor, números robustos em caso de ida ao segundo turno: bate com facilidade todos os pré-candidatos testados, exceto o deputado Mauro Tramonte (Republicanos). Outro aspecto importante diz respeito à sua avaliação pessoal e grau de conhecimento após a divulgação de seu tratamento quimioterápico. Os eleitores entrevistados o conhecem mais e avaliam melhor sua gestão após terem tomado ciência dos fatos.

Mauro Tramonte

Favorito na pesquisa estimulada, com 25% dos votos, perde para Fuad (8% a 6%) na pesquisa espontânea, o que indica que seu potencial de voto está diretamente atrelado ao seu “recall”, já que um importante apresentador de TV. Neste sentido, tão logo confrontado por outros candidatos e cobrado do que fez – e o que não fez -, além do “efeito Viana” (visto com decepção e desconfiança pelo eleitor), poderá “desidratar”.

Além disso, Tramonte disputa o mesmo espaço ideológico de Bruno Engler (PL), Carlos Viana (Podemos) e Luísa Barreto (Novo) – a direita -, o que tende a não se repetir no chamado campo progressista, com a unificação de candidaturas ou mesmo a desistência de outras em apoio ao atual prefeito, Fuad Noman, tido como um político de centro. Inclusive, interlocutores ouvidos por esta coluna assumem este possível cenário.

Gabriel Azevedo

O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) continua estacionado em um patamar baixo (2%) de intenções de voto, fato que se repete na maioria das pesquisas já divulgadas. A despeito de toda sua capacidade e bom trabalho frente ao legislativo da capital, bem como de intensa campanha nas redes sociais, o agora medebista sofre pela baixa penetração nas camadas mais pobres da cidade.

A campanha do vereador garante possuir pesquisas que o colocam em patamar superior a 10%, em pé de igualdade com o atual prefeito. Aliás, dizem ser este o motivo para os frequentes ataques à gestão de Fuad, que devem, inclusive, se intensificar bastante durante o período de propaganda eleitoral. Excelente na comunicação e com boa estrutura partidária, Gabriel Azevedo está longe de estar fora do páreo pela PBH.

Bruno Engler

Os números do bolsonarista o colocam como um dos favoritos ao segundo turno, porém, os mesmos números mostram que, uma vez por lá, suas chances de eleição à chefia do executivo da capital são relativamente remotas. Outro detalhe – este empírico -, é o baixíssimo capital político próprio do deputado, eleito com estrondosos 600 mil votos em 2022. Engler “existe” se apresentado como o candidato de Jair Bolsonaro.

Não é novidade para ninguém a péssima capacidade de comunicação do jovem deputado estadual, e isso poderá lhe render momentos constrangedores durante uma campanha que promete ser pouco educada. Em um debate ao vivo, por exemplo, Engler terá de pensar e falar por si mesmo, e não através do “mito”, ou seja, terá de convencer o eleitor, em segundos, que tem algum tipo de conteúdo, preparo e planos para Belo Horizonte.

Rogério Correia

Com meros 3% na pesquisa espontânea e 8% na estimulada, o deputado petista não conseguiu nem sequer, até o momento, o apoio oficial de Lula, o que beira o total desprezo do presidente por sua candidatura. Com altíssima rejeição (56%), perderia para os demais pré-candidatos testados em um hipotético segundo turno, o que demonstra a pouca viabilidade de sua campanha e coloca em risco o próprio prosseguimento.

Nos bastidores políticos, inclusive de seu partido, diz-se que irá abdicar da disputa e empenhará apoio a algum candidato de esquerda, ou mesmo ao prefeito Fuad Noman. Rogério é daqueles políticos “sem sal” e sem grandes feitos para apresentar. Em um ambiente tão polarizado, ou tem-se currículo ou tem-se pauta. Correia padece dos dois. Línguas afiadas o comparam ao “picolé de chuchu”, Geraldo Alckmin.

Duda Salabert 

Se não pontua maravilhosamente nas pesquisas, está longe de ser mera coadjuvante na corrida eleitoral de 2024 para a PBH. O grande empecilho talvez seja sua altíssima rejeição (55%) e uma atuação paupérrima no Congresso Nacional, principalmente para uma ex-vereadora campeã de votos, que abandonou a cidade e seus eleitores para se aventurar na capital federal em busca de projeção nacional.

Duda representa o extremismo da esquerda, e suas pautas vão quase sempre de encontro ao que precisa Belo Horizonte para se modernizar e crescer. Um exemplo é sua atuação oportunista e retrógrada contra a prova da Stock Car, que ocorrerá em agosto, e que trará inúmeros benefícios – de imagem e financeiros – à BH. Por essas e por outras, Duda poderá, inclusive, desistir da candidatura em prol de um arranjo político que a beneficie.

Os outros são os outros; e só

Não vou comentar sobre os demais candidatos, pois inexpressivos neste momento. Nem mesmo sobre o tucano João Leite, lembrado por 7% dos eleitores, pois sua candidatura – a despeito das recentes manifestações do PSDB – não é levada à sério nos bastidores da política local. Aliás, o próprio ex-deputado sabe que seu nome, como ocorre com Tramonte, aparece pelo chamado “recall”, mas sem muita chance de êxito.

E é mesmo sobre os tucanos que quero falar, essa espécie quase em extinção, infelizmente. Sobretudo o deputado federal Aécio Neves, outrora o todo-poderoso e mais influente político mineiro do Brasil. O que a pesquisa diz a seu respeito é simplesmente demolidor. E também sobre Alexandre Kalil. Ambos merecem comentários adicionais e próprios, pois parecem rumar ao ocaso político-eleitoral.

Aécio Neves

Um dos tópicos medidos pela pesquisa O Fator/Ver foi a influência do apoio eleitoral de determinados políticos como o presidente Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador Romeu Zema, o ex-prefeito Alexandre Kalil, o senador Rodrigo Pacheco e o deputado federal Aécio Neves. Confesso que chega a ser constrangedor o resultado obtido em desfavor do tucano. Se merecido, ou não, é com o eleitor.

Aécio Neves representa uma verdadeira âncora em uma candidatura. Seu apoio aumenta muito – ou aumenta pouco – a possibilidade de voto em 14%. Indiferente, 34%. Mas diminui pouco – ou diminui muito – estupendos 48%. Ou seja, quer fazer um candidato perder? Diga que é apoiado por Aécio Neves. Entre todos os nomes testados acima, é disparado o pior cabo eleitoral. É realmente um político “ladeira a baixo”.

Alexandre Kalil

O ex-prefeito empata com Lula, Bolsonaro e Zema – todos na faixa de 30% – como possível bom “transferidor de votos”. Como mau cabo eleitoral, não é o pior dos piores (30% não votariam por causa de sua indicação a um candidato). Mas se comparado com seus números anteriores, há cerca de dois ou três meses, a “queda de popularidade” é vertiginosa, e pode indicar que é mais um que ruma para o “nanismo eleitoral”.

Apesar de eleito e reeleito prefeito, e da alta popularidade ao deixar o cargo prematuramente, para se candidatar ao governo de Minas, Kalil perdeu feio para Romeu Zema em 2022, inclusive em Belo Horizonte. Além disso, notícias de graves problemas de gestão frente ao Atlético têm repercutido bastante junto à torcida atleticana. Sem contar no isolamento político, pois brigou com praticamente todo o mundo.

Encerro, agradecendo

É com imensa satisfação que O Fator, em parceria com o excelente Instituto Ver, do não menos excelente cientista político, professor e comentarista Malco Camargos, apresenta sua primeira pesquisa eleitoral. Ao estrear este site, em sociedade com o “Hulk” do jornalismo mineiro, meu amigo – e hoje irmão – Lucas Ragazzi, avisei que chegávamos para ser a melhor e mais influente página de nicho de Minas Gerais.

Em pouco mais de seis meses, vimos batendo, desde março, mais de 100 mil usuários únicos, de altíssima relevância nos três Poderes mineiros e no mundo dos negócios local como meio-ambiente, setor imobiliário e mineração. Em junho, passamos dos 200 mil usuários únicos e devemos fechar julho com mais de 300 mil “uniques”. Agradecê-los por tudo e por tanto é tarefa praticamente impossível. Mesmo assim: muito obrigado! 

A pesquisa O Fator/Instituto Ver foi contratada pela Fator Comunicação Ltda. Os dados foram coletados de 2 a 4 de julho, em 972 entrevistas com moradores de Belo Horizonte. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais, para mais e para menos, e intervalo de confiança é de 95%. O levantamento pode ser encontrado na base de dados da Justiça Eleitoral sob o código TRE MG-02358/2024.

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