Volta de ex-prefeito, lugar na TV e troca de apoio: as articulações que falharam na campanha eleitoral em BH

Até o pontapé inicial das campanhas, partidos e lideranças negociaram posições no xadrez eleitoral
Até a largada da corrida, com 10 candidatos, no último dia 15, diversas articulações foram tentadas. Foto: Divulgação/ALMG
Até a largada da corrida, com 10 candidatos, no último dia 15, diversas articulações foram tentadas. Foto: Divulgação/ALMG

“Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. A frase, eternizada pelo ex-governador mineiro Magalhães Pinto, é comumente utilizada por interlocutores políticos para definir a conjuntura em determinados locais. Apesar de recorrente, a pensata pode ser usada em uma conversa sobre a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Até a largada da corrida, com 10 candidatos, no último dia 15, diversas articulações foram tentadas.

Candidato à reeleição, o prefeito Fuad Noman (PSD), por exemplo, tentou reiteradamente conquistar o apoio de Alexandre Kalil, seu antecessor na prefeitura e companheiro de chapa em 2020. Uma semana antes de Kalil anunciar a saída do PSD rumo ao Republicanos — e o consequente embarque na campanha do deputado estadual Mauro Tramonte —, o ex-prefeito se reuniu com lideranças do PSD em Brasília (DF). Uma das pautas foi o possível apoio a Fuad. À ocasião, lideranças pessedistas estavam otimistas por um acerto.

Meses antes do Republicanos decidir por chapa própria encabeçada por Tramonte, o PSD chegou a nutrir esperanças de atrair o partido para a base de Fuad.

Houve, também, buscas por um apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Fuad Noman. A costura levaria os petistas à chapa do PSD. No fim das contas, o partido de Lula lançou o deputado federal Rogério Correia como candidato. Depois do martelo batido sobre Rogério, lideranças petistas tentaram obter o apoio do PDT da deputada federal Duda Salabert.

A busca do PL por Zema

Antes de firmar apoio a Mauro Tramonte, o Novo sustentou, por meses, a pré-candidatura da ex-secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto. Paralelamente, o PL, cujo concorrente à prefeitura é o deputado estadual Bruno Engler, tentava atrair o partido do governador Romeu Zema.

Apesar da busca de Engler pelo Novo, a possibilidade de aliança encontrou, de cara, resistência entre correligionários de Zema. Passado o período destinado às convenções partidárias, o PL oficializou a formação de uma coligação com o PP, que definiu pelo apoio ao deputado estadual ainda no início do ano.

O ‘outro vice’ de Fuad

Primeira agremiação a embarcar formalmente na aliança pela reeleição de Fuad, o União Brasil sempre teve a prerrogativa de indicar o candidato a vice — ainda que o nome escolhido não fosse formalmente ligado à legenda. Até o vereador Álvaro Damião, que é do União, ser apontado para o posto, houve debates.

Às vésperas do fim da janela partidária, em abril, a equipe política da campanha do atual prefeito chegou a sugerir nomes que ocupam cargos na administração.

Convencendo Damião

Plano ‘A’ de Fuad para vice desde o início, Álvaro Damião tinha dúvidas para aceitar o posto. O parlamentar não queria arriscar uma reeleição a vereador “praticamente garantida” para apostar numa possibilidade de se eleger vice-prefeito. O União Brasil fez diversas reuniões e negociações para convencer Damião – passando ali por garantias de que ele teria espaço na direção da legenda em caso de derrota nas urnas e, para 2026, seria a principal aposta do partido na candidatura à Câmara Federal.

Apesar das conversas constantes com o partido e com Fuad, Damião só cedeu e aceitou de fato ser vice depois de ser convencido pelo senador Rodrigo Pacheco e pelo deputado estadual João Vitor Xavier.

Os vaivéns de PRD e PSDB

Fruto da fusão entre Patriota e PTB, o PRD compõe a coalizão liderada por Fuad e o PSD, mas ameaçou abandonar o grupo após a indicação de Álvaro Damião para a vice. A crise logo foi resolvida. Antes, porém, o PRD chegou a cogitar a pré-candidatura do deputado federal Pedro Aihara, famoso pela atuação no Corpo de Bombeiros à época da tragédia de Brumadinho, em 2019.

O PSDB, por sua vez, decidiu na reta final dar apoio à reeleição de Fuad. O ex-deputado estadual João Leite foi lançado como pré-candidato da federação formada pelos tucanos e pela Cidadania. Houve, também, conversas com Gabriel Azevedo, do MDB.

PSB e PT

O acerto que levou o PSB para a coligação liderada por Gabriel Azevedo quase foi comprometido por uma pressão do PT — que, por vias nacionais, tentou obter o apoio dos socialistas a Rogério Correia. Após Gabriel anunciar Paulo Brant, do PSB, como candidato a vice, Carlos Siqueira, presidente nacional do partido, chegou a dizer que o martelo não havia sido batido.

A busca do PT pelo PSB aconteceu em meio a uma tentativa de formar uma frente ampla da centro-esquerda à esquerda. Embora o apoio dos socialistas e do PDT não tenha se concretizado, os petistas conseguiram reunir outros cinco partidos: PV, PCdoB, Rede, Psol e PCB. O PCB, aliás, não se aliava ao PT em Belo Horizonte há 20 anos, quando Fernando Pimentel foi reeleito.

O retorno do ex

Marcio Lacerda fez movimentações relevantes ao longo dos primeiros meses do ano. Em fevereiro, chegou a se reunir com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, para conversar sobre uma candidatura em Belo Horizonte. Na época, se filiou novamente ao PSB, partido que saiu em 2018 após ser barrado, de última hora, de concorrer ao governo de Minas.

O ex-prefeito até sinalizou ter mesmo vontade de se candidatar, mas foi convencido por familiares e amigos pessoais a não embarcar na ideia. Quem acompanhou as conversas de perto, disse que foi mesmo por pouco.

Viana e Tramonte

No início de julho, O Fator presenciou um encontro entre o ex-deputado estadual Adalclever Lopes, um dos coordenadores da campanha de Tramonte, e Eduardo Serrano, o “He-Man”, braço-direito de Viana. À época, houve a tentativa de fazer com que o senador desistisse da candidatura própria para apoiar a empreitada do deputado estadual.

De volta à TV

Uma das possibilidades discutidas na época, para que Viana deixasse a candidatura e apoiasse Tramonte, seria a inclusão da TV Record nas conversas. Na ideia de interlocutores que participaram dos encontros, Tramonte poderia viabilizar uma volta do senador licenciado para a emissora – e, em 2026, se candidataria a deputado estadual com apoio do grupo da Igreja Universal. A conversa não avançou.

As reuniões de Kalil

Antes de fechar apoio a Mauro Tramonte, Kalil conversou com diversos candidatos, da direita à esquerda. Além de Fuad, já citado neste texto, houve reuniões com Carlos Viana, Duda Salabert e Rogério Correia. Bella Gonçalves (Psol), que retirou a pré-candidatura e se tornou vice na chapa do PT, também se reuniu com o ex-prefeito.

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