Certas coisas, no Brasil, ou muitas, vá lá, dão uma preguiça danada e são mais previsíveis que o Galo me fazer raiva – jogo sim, jogo também. Aliás, ô maldição esse negócio de férias de futebol, viu? Chega o fim de ano e sobram as memórias malditas: por que o Vargas perdeu o gol, por que o juiz não deu o pênalti, como o Kardec furou aquela bola? Vem ni mim 2025!! Nem que seja para sofrer mais – de amor e de dor.
Pronto. Agora que desentalei uma coisa, vamos para outra: qual a dificuldade de se entender – de uma vez por todas!! – que “o ótimo é inimigo do bom” e que melhorar (muito) o que está ruim é a única opção a não fazer nada, em nome da busca de uma perfeição que, como diria o padre Quevedo, “Não equisiste”, caramba. Não dá para fazer omelete sem quebrar ovos, mesmo motivado pelas causas mais nobres do planeta.
Todo mundo reclama da criminalidade e pede mais policiamento ostensivo, mas quando alguns poucos erros (violência policial, justiçamento, seletividade, corrupção etc.) acontecem em meio a milhares de ocorrências anuais – e devem ser sempre denunciados, criticados, apurados e punidos -, porque não há perfeição em nada na vida, a turba barulhenta corre em busca de estardalhaço e de holofotes, transformando tudo em terra arrasada.
Novela sem fim
Ninguém, nestes dias atuais, mesmo aqueles que acreditam em cloroquina e Terra plana, é capaz de negar o risco climático crescente, sobretudo autoridades responsáveis que lidam diariamente com dados e cenários apocalípticos. De igual sorte, quaisquer ambientalistas responsáveis entendem a necessidade de equilíbrio entre preservação, desenvolvimento sustentável e… sim! Vida humana. Afinal, a gente “equisite”, porra!
Entre desabrigar três Joões de Barro, dois mico-leões dourados e preservar dez ipês roxos (que são lindos, aliás) ou salvar a vida de um idoso, que não chegou a tempo no hospital porque a ambulância não conseguiu superar dois ou três quilômetros em menos de uma hora e meia, fico com a segunda opção. E quem, pensando nos pais e avós, e em si mesmo – que mora na região -, não tem medo de que isso também lhe aconteça?
O plano viário e ambiental – sim, imperfeito, mas muito bom e possível – previsto para a divisa entre Nova Lima e Belo Horizonte (região do Vale do Sereno, Vila da Serra e Belvedere), parido à fórceps pelo esforço conjunto das prefeituras dos dois municípios, associações de moradores, governos estadual e federal e, sobretudo, Ministério Público de Minas Gerais, debatido e desenhado durante anos, ganhou mais um capítulo.
Chega de ideologia mofada
Uma audiência pública realizada em Nova Lima, semana passada, ouviu as partes envolvidas e impactadas. Este O Fator resumiu bem as manifestações (legítimas) de todos. Recebi, também, comunicados de moradores, de associações e mensagens de grupos de WhatsApp – contra e a favor do projeto. Quem me conhece sabe que opino a partir das minhas próprias convicções, e jamais a mando ou a soldo.
Dentre as questões levantadas por quem é contra o projeto, não encontrei nenhuma que justifique a não continuidade, mas observações pontuais que merecem ser debatidas e corrigidas – o que é sempre possível, aliás. Por exemplo: a falta de um trecho que ligue a “Avenida Parque” ao anel rodoviário (hoje está previsto o entroncamento com a BR 356, o que só deslocará o local de engarrafamento).
Já posições como: “quando ficar pronta a via estará saturada; vão construir mais prédios e condomínios de luxo; vai afetar o amortecimento das chuvas; talvez cobrem ingresso para o parque”, são meros palpite e ranço ideológico – chamo de ranço porque: 1) sem embasamento técnico; 2) exercício de futurologia e 3) preconceito contra “condomínios de luxo” e politização em favor da preservação ambiental.
Precisamos de um final feliz
Walmir de Castro Braga, advogado e presidente da UNIVIVA, associação que reúne dezenas de associações de moradores, pontuou: “Como a área pertence à União, no acordo há condições claras para a cessão: proteção do meio ambiente, especificamente a gestão de áreas verdes, o não adensamento populacional das áreas circunvizinhas, a preservação da linha férrea e a implementação de soluções de mobilidade“.
Ou seja, não há que se falar em construção de condomínios, impacto ambiental e outras especulações – como “argumentos” contrários -, pois o ACORDO ASSINADO, que é o único dado concreto, desmente tais alegações. Chega de mistificação e palanque ambiental fake, às custas do sofrimento de milhares de pessoas que vivem e se deslocam pelo local (boa parte da turma contrária não mora na região).
Há momentos em que adultos responsáveis devem assumir o comando das ações no lugar dos adolescentes rebeldes, sob pena de o caos – em nome de idealismo e utopia – imperar definitivamente. Não é possível que tanta gente capacitada, investida de poderes legais e amparada por estudos técnicos esteja errada, e certos, apenas dois ou três “ambientalistas”, que só especulam e desfilam as próprias crenças.