Simbolicamente, muros significam clausura, separação, segregação, solidão. Não à toa terem surgido há milênios, primeiro como forma de proteção, depois como confinamento. Muros não apenas dividem; aprisionam.
A grande muralha da China, o muro de Berlim, os muros de Celta, o muro de Evros. As fronteiras de Estados Unidos e México, Israel e Gaza, Coreia do Sul e Coreia do Norte. Os muros dos condomínios no Brasil.
O ser humano é livre por natureza, é social e sociável, precisa de espaço e circulação. Nas sociedades democráticas – e até ditaduras -, aqueles incapazes do convívio em comunidade são levados para… intramuros.
Manoel de Barros, genial poeta (1916-2014), escreveu: “Não possuía mais a pintura de outros tempos. Era um muro ancião e tinha alma de gente. Muito alto e firme, de uma mudez sombria. Nunca pude saber o que se escondia por detrás dele”.
Segregação
Nasci em Brasília e me mudei para Belo Horizonte com apenas 10 anos. Adotei a cidade e sou por ela apaixonado. Hoje, porém, moro em Nova Lima, igualmente no meu coração. Duas metades de mim.
Chico cantou, e encantou: “Oh, pedaço de mim. Oh, metade exilada de mim. Leva os teus sinais. Que a saudade dói como um barco. Que aos poucos descreve um arco. E evita atracar no cais”.
Uma estrada férrea desativada, terreno baldio e palco de invasões, sei lá porquê chamada de Parque Linear, me divide ao meio. Belzonte de um lado, New Lime de outro, e eu sempre preso no trânsito.
Belvedere de um lado, Vale do Sereno e Vila da Serra de outro, e conterrâneos mineiros, parentes e amigos separados por um muro em forma de mato. Em comum, o sentimento de distância, ainda que tão próximos.
Integração
Nem heróis nem anti-heróis. Apenas homens e mulheres com convicções. Os motivos? Bem, cada um sabe onde o calo aperta. Interesse econômico, ideologia política, desejo de sossego, vaidade, inveja.
“Só sei que nada sei”. Mas sei que a divisa entre os dois municípios precisa de solução. Hospitais, escolas, comércios, residências, escritórios… gente! Sustentabilidade não é só para João de Barro e Mico-Leão Dourado.
A linha férrea desativada que, repito, de parque não tem nada, precisa: 1) Servir de passagem para pedestres (moradores e visitantes) da região. 2) Compartilhar espaço com uma via de ligação que desate o nó do trânsito local.
O que mais? Pois não: 3) Ser adjacente a, aí sim, um verdadeiro parque linear. 4) Ser preservada como patrimônio histórico e, talvez, no futuro, reativada para um VLT ou algo assim. Precisa, enfim, integrar.
Tear Down The Wall
Eita, que tô cultural, hehe. Se alguém que estiver me lendo não conhece Pink Floyd, pare imediatamente e ouça/veja “The Trial”, da obra-prima “The Wall”. Traduzindo: “derrubem o muro”. Isso mesmo! Tear down the wall.
Eu vivi para ver e, agora, crer. Fuad Noman, prefeito de Belo Horizonte: “Tiramos o muro que segrega aquela área” (Vale do Sereno). O governador Romeu Zema repetiu. Fuad já pode cobrar direito autoral.
Dr. Jarbas Soares, Procurador-Geral de Justiça de Minas Gerais (MPMG), como bom atleticano, não desistiu e… acreditou! Muitos merecem destaque e elogios, mas o quarteto principal se encerra com o prefeito de Nova Lima, João Marcelo.
Juntos, estes senhores pensaram grande, enfrentaram brigas grandes e estão prestes a entrar para a história dos municípios vizinhos. Em breve, se as vozes do atraso não atrapalharem mais, uma obra magnífica integrará BH e Nova Lima. O muro caiu.
Entenda em Detalhes
No link a seguir, o histórico acordo firmado na tarde desta terça-feira (25) no Ministério Público de Minas Gerais. Clique aqui.
De lambuja, Pink Floyd em The Trial: