O embaixador Eduardo Saboia disse nesta sexta (14) estar “muito confortável” com sua substituição como sherpa (negociador-chefe) do Brasil no BRICS.
Como O Fator mostrou, o Itamaraty anunciou em janeiro a troca do sherpa do Brasil nos eventos do BRICS, que o país sedia este ano. Na nota à imprensa não consta qualquer explicação do motivo. Nos corredores do ministério e também do Senado conta-se a mesma história: a substituição ocorreu a pedido de Dilma Rousseff, hoje presidente do banco dos BRICS.
“Já tem sherpa, eu estou indo embora [se confirmado pelo Senado como embaixador do Brasil na Áustria]”, disse Saboia, respondendo a uma pergunta de O Fator em coletiva de imprensa no Itamaraty. “Dentro do meu ciclo normal de chegadas e partidas, não tem problema nenhum, e eu tô muito bem, muito confortável com tudo o que foi feito. E o embaixador Mauricio Lyrio [substituto de Saboia] é um craque, uma pessoa que vai ficar aqui e eu tô indo embora. Então natural que ele seja o sherpa, ele que foi também bem-sucedido também como sherpa do G20″, acrescentou.
Saboia tornou-se desafeto de Dilma em 2013, quando chefiava a embaixada do Brasil na Bolívia. Ele conduziu uma missão clandestina para tirar de lá o ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, adversário do governo Evo Morales, que recebeu asilo do Brasil mas não salvo-conduto da Bolívia para deixar a embaixada sem ser preso.
Saboia não negou nem confirmou que houve interferência de Dilma na substituição.
As declarações de Saboia foram em coletiva de imprensa sobre as viagens de Lula para o Japão e o Vietnã, que serão no fim de março.
O Brasil busca há muito tempo abrir o mercado de carne bovina no Japão. Nas contas do Itamaraty, o Brasil responde por 20% da produção mundial e 25% do mercado internacional. O mercado no Japão é de US$ 4 bilhões em importações por ano, e o Brasil vende zero. Austrália e Estados Unidos respondem juntos por 80% das importações japonesas de carne. O diplomata Paulo Elias Martins de Moraes disse que o Brasil trabalha por “um compromisso político” por uma visita técnica de japoneses ao Brasil para futuramente abrir esse caminho.
Em setembro de 2023 o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh, visitou o Brasil. No Itamaraty, ele disse esperar que o Brasil “em breve” reconhecesse o Vietnã como economia de mercado na OMC. Perguntado por O Fator se Lula fará esse anúncio na viagem a Hanói, Saboia respondeu que “isso é uma discussão que está em curso”, e que não vai “antecipar nada”.
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