O Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, disse a O Fator ter pedido esclarecimentos ao Ministério da Fazenda sobre o relatório do Banco Central sobre ‘bets’ e os indícios de que ele sugere uma fraude no programa.
O Banco Central não respondeu às nossas perguntas.
Os indícios de fraude foram mostrados pela jornalista Amanda Rossi, do UOL, na rede Bluesky.
A análise do BC sobre as ‘bets’ foi publicada na semana passada, e feita a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM).
Segundo o relatório, “em agosto de 2024, 5 milhões de pessoas pertencentes a famílias beneficiárias do Bolsa Família (PBF) enviaram R$ 3 bilhões às empresas de aposta utilizando a plataforma Pix, sendo a mediana dos valores gastos por pessoa de R$ 100“.
“Mediana” é o termo-chave aqui. Mediana é o valor no meio de um conjunto de dados, ou seja, aquele que separa as metades da amostra.
Se 5 milhões de pessoas gastaram R$ 3 bilhões, então o gasto médio foi de R$ 600, já bem perto do benefício médio do Bolsa Família, que é de R$ 682.
O que já é esquisito.
Além disso, se a mediana foi de R$ 100, então 2,5 milhões de beneficiários apostaram até R$ 100, enquanto os outros 2,5 milhões apostaram mais de R$ 100.
Seria necessário que alguns apostadores gastassem muito mais que o valor do Bolsa Família inteiro para a conta fechar.
Algo não está certo nos números do BC.
O MDS disse que “solicitou esclarecimentos ao Ministério da Fazenda a respeito do relatório produzido pelo Banco Central”.