A mineradora Vale adquiriu quase metade de um bairro em Brumadinho devido à proximidade do local com a mancha de rejeitos deixados pelo rompimento da barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, em 2019. Ao todo, 258 imóveis do Parque da Cachoeira foram comprados pela empresa, representando 44% do total de 580 lotes da região. Os dados constam em documento oficial enviado pela mineradora ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) no ano passado.
O bairro, localizado a aproximadamente 7,3 quilômetros do centro de Brumadinho, foi diretamente impactado pela tragédia ocorrida em 25 de janeiro de 2019, quando 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos destruíram uma área de 300 hectares após o rompimento da barragem.

Antes do derramamento de lama, segundo o Censo 2010 do IBGE, o bairro contava com 763 moradores distribuídos em 541 domicílios. A região era conhecida por suas características rurais, com lotes de aproximadamente 1.000m² e residências com quintais produtivos. O local tinha forte vínculo com o Ribeirão Ferro Carvão, que servia como área de lazer para a comunidade.
Em resposta ao Ministério Público, a Vale informou, em 2024, que outros 22 lotes (4% do total) ainda estavam em análise para possível aquisição. A empresa afirma que “arcará com a responsabilidade que lhe cabe e indenizará todos os atingidos elegíveis pelo Termo de Compromisso”.
Atualmente, uma empresa terceirizada promove trabalhos de demolição de parte das residências adquiridas pela mineradora.
Problemas de infraestrutura
A aquisição dos imóveis pela Vale tem gerado mudanças significativas no tecido urbano do bairro. É o que relata a arquiteta Stephanie Dias Ferreira, assistente técnica dos moradores do Parque da Cachoeira. Segundo um estudo promovido pela assessora do bairro, o local, antes conhecido pela vida comunitária ativa e pela qualidade ambiental, agora enfrenta graves problemas de infraestrutura.
“Tínhamos uma vida saudável, com mais de seis canteiros de hortas e várias frutas. Compartilhávamos com os vizinhos para evitar desperdício”, descreveu um morador registrado na pesquisa de Ferreira.
O processo de indenização se baseia no Termo de Compromisso firmado entre a Vale e a Defensoria Pública de Minas Gerais em abril de 2019. O acordo abrange não apenas aqueles que sofreram danos diretos, mas também os que “atestem não ter condições emocionais de residir nos locais afetados”.