CMBH: entre mortos e feridos, salvaram-se (quase) todos

Gabriel Azevedo coleciona uma marca curiosa e impressionante: desafetos políticos seus, um a um, tombaram ao longo do percurso
Vereadores cassados em BH por fraude em cota de gênero
César Gordin e Wesley Moreira: Entre mortos e feridos, nem todos se salvaram / Foto: Reprodução (Redes Sociais)

Confesso que nunca compreendi bem a frase que intitula essa coluna até um dia, finalmente, entender que se tratava da mais pura e fina ironia. Minha vida, aliás, é cheia de passagens que só compreendo mais a frente, quando “tantas águas rolaram, tantos homens me amaram, bem mais e melhor que você”.

Tenho bons relacionamentos, e alguns ótimos, na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). Por isso, fiquei certo modo triste com a pancadaria que imperou na Casa, ano passado, especialmente durante o segundo semestre, a partir de severas desavenças entre o presidente Gabriel Azevedo (MDB) e a intitulada “Família Aro”.

Primeiro porque, como disse, gosto de muita gente que passou, infelizmente, a se odiar. Segundo porque considero contraproducente para a cidade. E isso não significa que quero, ou espero, um ambiente de anjinhos tocando harpas, mas quando o legislativo gasta mais tempo com si mesmo do que com o município, o cidadão (eu) sai perdendo.

NEM ANJO NEM DEMÔNIO

Gabriel não é “flor que se cheire” (outra frase que demorei a compreender) no que diz respeito ao temperamento. Porém, e já me manifestei inúmeras vezes neste sentido, é um rapaz pra lá de capacitado, bem-intencionado e honesto. Cassar seu mandato, baseado em ofensas – de lado a lado – durante discussões, é, a meu ver, simplesmente inaceitável.

Por isso, as duas tentativas infrutíferas e descabidas neste sentido, uma impetrada pela deputada federal Nely Aquino (Podemos), outrora boa amiga e parceira na Câmara, e outra, pelo vereador Miltinho CGE (PDT), não apenas não resultaram em nada, além de desperdício de tempo e dinheiro público, como atestam, cabalmente, minha tese a respeito.

QUEM COM FERRO FERE

Durante este triste processo, um vereador que simpatizo muito, aliás, Wesley Moreira (PROS), deu uma entrevista a mim e a meus colegas da Rede 98, fazendo, além de críticas bastante duras, acusações gravíssimas contra o vereador Gabriel Azevedo. À época, ao vivo, o “intimei” a apresentar as provas do que dizia, mas isso jamais ocorreu. Alô, Wesley: cê tá me devendo essa!

Dias depois, dentro da linha editorial da Rádio – democraticamente dar espaço a todos -, foi a vez de Gabriel dar uma entrevista. Obviamente, o questionei a respeito das acusações de Wesley, e o presidente da Casa, de forma, digamos enigmática e meio profética, com semblante calmo e voz baixa, o que não é muito comum, anunciou: “Wesley é um morto-vivo, um zumbi”.  

XANDÃO NA CAUSA

Em tempo: morto-vivo também nunca me foi de fácil compreensão. Mas enfim. Nesta terça-feira (12), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandato parlamentar de Wesley Moreira por fraude relacionada à cota de gênero. Desde ontem, portanto, eleitoralmente falando, o ex-vereador perdeu o segundo adjetivo dado por Gabriel. Ou seja: aquele que acusou, sem provas, foi cassado, com provas, e hoje está “morto”, justificando o “quase” que meti no título. 

Já Gabriel coleciona uma marca curiosa e impressionante: desafetos políticos seus, um a um, tombaram ao longo do percurso: Wellington Magalhães, ex-presidente da Câmara (preso); Léo Burguês, ex-vereador (cassado); Caio Narcio, ex-deputado (falecido); Narcio Rodrigues, ex-deputado (preso). Como é mesmo? “Quero morrer seu amigo, Gabriel”.

E AGORA, JOSÉ?

Conforme detalhou Lucas Ragazzi em sua coluna neste O FATOR, a Câmara Municipal deve experimentar uma nova “geografia” com a entrada dos suplentes (o vereador César Gordin, também do PROS, foi cassado pelo mesmo motivo). No caso da saída de Wesley, a Família Aro perde um expressivo integrante – quase presidente da Casa no lugar do insosso Juliano Lopes (AGIR).

Aliás, Juliano é uma espécie de braço direito do secretário de estado Marcelo Aro, outro desafeto político de Gabriel, responsáveis diretos pelos movimentos fracassados de cassação do faraó, digo vereador, Tutancâmon, digo Gabriel Azevedo, com vias a tomar, ilegitimamente, a meu ver, a Presidência da Casa. Dado o histórico recente, como dizem por aí, torço para que “Deus tenha piedade de suas almas”.

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