O deputado federal Albuquerque (Republicanos-RR), único parlamentar brasileiro que já falou no Congresso sobre a facção venezuelana Trem de Arágua, disse nesta terça (21) a O Fator que o decreto de Donald Trump citando a organização é o reconhecimento de uma realidade.
Como mostramos, Trump assinou na noite de ontem decreto orientando a diplomacia americana a classificar cartéis mexicanos e facções como a Trem de Arágua como terroristas.
A Trem de Arágua tem presença em Roraima e aliança com o PCC.
Procurados novamente hoje para comentar o decreto de Trump, o Ministério da Justiça, o Itamaraty e o governo de Roraima não comentaram.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o deputado Albuquerque.
Como o senhor avalia a decisão do presidente Donald Trump de orientar a diplomacia americana para classificar a Trem de Arágua como terrorista?
Olha, eu acho um fato real, né? A verdade que existe, que dentro do estado de Roraima já existe a Trem de Arágua. Eu fiz essa denúncia e venho reiterando essa denúncia no Brasil, no Congresso Nacional. E o Donald Trump reconhece que a Trem de Arágua é uma facção criminosa que tem essa magnitude mundial, que oferece essas condições ao povo mundial.
Por que a Trem de Arágua, mais do que uma facção criminosa, é terrorista, na sua avaliação?
É só ler os fatos que acontecem na Venezuela, né? Eles comandam, eles são cruéis por extremo na Venezuela. Eu, que conheço um pouco da Venezuela e que tenho amigos na Venezuela, sei que eles agem como terroristas na Venezuela.
Dentro dos garimpos, então, eles matam por ato de crueldade. As ações que eles cometem na Venezuela são coação de terrorismo. E isso nos preocupa quando as autoridades brasileiras e a nossa Polícia Militar de Roraima já nos alertam que a Trem de Arágua está no estado.
Na sua avaliação, os integrantes da Trem de Arágua já fizeram alguma coisa que pode ser classificada de terrorismo no Brasil?
Deixa eu lhe falar, ontem foi descoberto dentro da cidade de Boa Vista um cemitério clandestino, com pessoas enterradas. Eu não posso classificar que essas pessoas foi a Trem de Arágua que matou, porque as investigações estão sendo feitas. Mas tudo indica que é a Trem de Arágua que está matando essas pessoas.
Deputado, pelo que eu entendi de um livro, o Ministério Público de Roraima já tinha contado que existem integrantes venezuelanos do PCC, que tem uma aliança com a Trem de Arágua. O senhor também sabe se existe o contrário, ou seja, existem pessoas brasileiras integrantes da Trem de Arágua?
A gente não pode afirmar isso, né? O que a Justiça e a Polícia já sabem é que existe uma integração do PCC com a Trem de Arágua.
A classificação como terrorista, se ela se confirmar, vai permitir algumas sanções nos Estados Unidos. Como o senhor acha que essas medidas podem ajudar ou impactar no trabalho do Brasil e de Roraima em combater a facção?
Olha, nós temos que analisar de que modo se comporta a lei brasileira acerca dessa declaração, né? A partir daí a lei brasileira também tem que entrar em vigor. O que nós queremos é que a nossa sociedade brasileira seja protegida desses criminosos que não têm piedade e nem pudor com as famílias brasileiras.
Por ter falado da facção antes, o senhor se sente vingado de alguma maneira pelo decreto do presidente Trump?
Não é que eu me sinta vingado, eu me sinto realizado. Não só pelo que estou dizendo da Trem de Arágua, como outros crimes que os venezuelanos vêm cometendo no Brasil e que eu venho denunciando, veementemente.
Por que o Brasil é tão solto com o povo da Venezuela, por que as autoridades brasileiras deixam as portas tão abertas para o povo da Venezuela? É preciso fazer com que essas leis brasileiras mudem e a gente realmente possa dar condição a esse povo estrangeiro de se tornar um bom brasileiro, a partir do momento em que se possa dizer: esse cara é um criminoso ou é um cidadão de bem de outro país.
Na audiência pública na Câmara em abril de 2024, em que o senhor citou a Trem de Arágua, o senhor pediu ao ministro Lewandowski a construção de um pavilhão para abrigar presos venezuelanos. Desde que o senhor fez esse pedido, o que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal já fizeram?
Nada, absolutamente nada, até hoje não foi feito nada, não teve nada disso.
Eu nem fui recebido pelo ministro, fui pelo chefe de gabinete, aí ficou nisso, e não houve mais contato.
Onde é que seria esse pavilhão?
Seria mais um pavilhão na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista. Eu pedi R$ 40 milhões para fazer um pavilhão, para atender essa demanda, uma vez que, dos 3.500 presos que o Estado tem, 600 já são venezuelanos.
O senhor também tem conversado com a equipe do governo estadual, com o governador Antonio Denarium (PP)?
Sim, inclusive o governador Denarium também tem pedido ao governo federal, teve audiência com o presidente Lula. E tem pedido um presídio federal pro estado, que eu não concordo.
Eu acho que não temos que abrir porta para prender venezuelano, nós temos que fazer uma triagem na fronteira, e vagabundo venezuelano tem que ficar da fronteira pra lá.
Por que não um presídio federal?
Roraima é o menor estado da Federação, é o mais pobre da Federação, e a gente vai ter um presídio federal para acolher venezuelano, para acolher miséria? Esse não é o melhor modelo para desenvolver o estado.