Retaliação ou protesto? O clima ruim que rondava a Rede Sustentabilidade em Minas há algum tempo tomou, na noite desta quarta-feira (28), um caminho de ruptura talvez incontornável. Durante reunião da Executiva estadual do partido, os integrantes do diretório municipal de Belo Horizonte ligados ao ex-deputado Paulo Lamac renunciaram seus cargos – incluindo uma das porta-vozes da legenda, a médica Jeanine Vasconcelos. O movimento tem sido classificado de forma diferente pelos dois grupos que hoje existem no partido – o outro, liderado pela deputada estadual Ana Paula Siqueira.
Segundo a ala ligada a Lamac, a renúncia coletiva se deu em protesto a uma suposta omissão do diretório municipal na organização para disputar as eleições. “No último 5 de fevereiro completamos 1 ano de comissão municipal sem nenhuma reunião ou movimentação para preparar o partido para ter candidatos à Câmara Municipal. É como se não fossemos ter uma chapa de candidatos, e muitas pessoas tentaram agendar uma reunião. Eu sou porta-voz do diretório municipal e não tenho nem a senha das contas do partido nas redes sociais, a pessoa da comunicação do partido também não”, diz Jeanine.
Na avaliação dela, a “omissão” do diretório se dá por conta de uma estratégia do grupo rival no partido, ligado à deputada Ana Paula Siqueira. “Acredito que seja uma estratégia da deputada Ana Paula para comandar tudo. Ela se lançou pré-candidata a prefeita sem fazer qualquer debate ou consulta ao partido. Eu nem fui convidada para o evento de lançamento”.
Já para o outro porta-voz da Rede em BH, o advogado Pablo Figueiredo, o movimento feito pelo grupo de Jeanine é uma retaliação ao lançamento da pré-candidatura de Ana Paula Siqueira. “É uma clara retaliação ao lançamento da pré-candidatura da deputada Ana Paula Siqueira à prefeitura de BH, principalmente pela vinda e apoio da ministra e fundadora do nosso partido, Marina Silva, ao nome de. Ana Paula à prefeitura. Essa foi a insatisfação e motivo da retaliação”, afirma.
Ainda segundo Figueiredo, não houve qualquer aviso ou comunicação prévia por parte do grupo de Lamac abordando a renúncia coletiva. “Não informaram nada no grupo da Executiva. Eu conversei com a Jeanine na terça, um dia antes, e até combinamos uma reunião na próxima semana, na segunda, que está mantida. Fizeram argumentos falsos e inverídicos porque ficaram insatisfeitos com o lançamento da Ana Paula”.
O partido, agora, aguarda pelo desdobramento das renúncias. Há quem aposte que a movimentação tenha como objetivo gerar uma intervenção do diretório nacional para formar uma nova comissão provisória em Belo Horizonte – essa possivelmente com nomes ligados a Paulo Lamac. Outra hipótese é levar o comando do diretório municipal para o diretório estadual, onde Lamac é o presidente (chamado de porta-voz pelo regimento interno da Rede).
“Não vai acontecer nenhuma intervenção, seria contra o regimento. Eu ainda não fui notificado. Vamos aguardar e apresentar uma defesa. Por aqui ninguém estava sabendo”, rebate Pablo Figueiredo.
Como mostrou O FATOR na semana passada, a turbulência na Rede mineira já vem há algum tempo. Tanto Ana Paula quanto Lamac anunciaram a intenção de serem pré-candidatos à PBH. No grupo de Ana Paula, nacionalmente ligado à ministra Marina Silva, há uma articulação junto à esquerda mineira (PT, PDT e PSOL) para avaliar as pré-candidaturas e, no prazo final, alinhavar apoio a um só nome. Já o grupo de Lamac, nacionalmente ligado à ex-deputada Heloísa Helena, batalha para tentar mais espaço na prefeitura e apoiar a reeleição de Fuad Noman (PSD).
Na campanha de 2022, quando Lamac e Ana Paula foram candidatos (o primeiro a federal, a segunda a estadual), apesar da dobradinha entre os dois, houve certa irritação por parte da deputada, que considerava que Lamac priorizava sua candidatura em detrimento ao fortalecimento da chapa e outras candidaturas. Outro ponto que contribuiu para o afastamento entre os dois foi a frequente tentativa de “interferência” de Lamac no mandato de Ana Paula na Assembleia. A parlamentar, na maioria das vezes, se recusou a seguir pedidos, o que levou a relação ao chão.
Ana Paula Siqueira foi assessora de Lamac até disputar e vencer a eleição para deputada em 2018 – apoiada pelo ex-deputado, que havia deixado o mandato para assumir como vice-prefeito de Belo Horizonte, em 2017, ao lado de Alexandre Kalil.