O Fator

Kertzman: Sala Minas Gerais: venceu o perverso modelo de transferência de renda do Brasil

Endinheirados com influência, organização e boa propaganda, se aproveitam dos miseráveis desorganizados do País

Filarmônica de minas Gerais
Filarmônica de Minas Gerais: festa privada paga com dinheiro público (Foto: Alexandre Rezende/Divulgação)

Mais uma vez, o lobby dos “batedores de carteira do dinheiro público” venceu, e os contribuintes mineiros, incluindo os miseráveis do Vale do Jequitinhonha, pagarão a conta de mais uma aberração em forma de privilégios indecorosos de uma casta branca, rica e estudada, que jura representar a “cultura mineira” – com o dinheiro dos pretos, pobres e sem escola de Minas Gerais. Apelativo, demagógico? Sim, mas necessário.

Se tem algo que odeio nesse mundão de meu Deus são hipocrisia e mentira. Quando combinadas, então, me eriçam os pelos que não tenho na calva. A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, uma entidade privada (Instituto Cultural Filarmônica), e não pública, é sustentada – em sua grande parte – pelos empresários que ora ataca de forma vil, mentirosa, hipócrita e, claro, apelativa e demagógica. Entenderam o meu “necessário” acima?

DESENHANDO PROCÊS

Pior. Conta com o corporativismo bocó de seus pares artistas e intelectuais que não enxergam serem vítimas, eles também, da apropriação exagerada de espaço e dinheiro públicos, por parte não de uma classe (músicos), mas de “executivos” que recebem salários três, quatro vezes maiores que os próprios e verdadeiros artistas, os músicos. Como é mesmo? “Isso a Globo não mostra”. Reparem que hoje estou cheio de jargões, hehe.

A guerra travada entre ICF e governo de Estado, notadamente Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) e Codemge (Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais), por causa do equipamento público – PÚBLICO – Sala Minas Gerais, beira as raias da loucura, e seria cômico se não fosse trágico. Estamos falando de um butim de cerca de 50 milhões de reais anuais.

VÃO VENDO, LEITORES

A Filarmônica – não confundir com sinfônica, entidade estatal – já abocanhava 17 milhões de reais dos cofres estaduais, fatia considerável do orçamento total da Cultura do Estado, e quase o mesmo valor de entidades públicas e privadas, através de leis de incentivo. Ou seja: renúncia fiscal. Traduzindo: nossa grana! Mas não bastava. Pediu e levou, anos atrás, mais quase R$ 3 milhões, e hoje, custa, diretamente, mais de 19 milhões de reais anuais.

Tenho certeza de que você, leitor ou leitora deste site, não se incomoda tanto, afinal, faz parte do estrato mais abastado da sociedade. Aliás, como eu, imagino considerar Cultura fundamental, e até mesmo dever do Estado. Porém, igualmente, tenho certeza de que não concordará em saber que, dessa grana toda, mais da metade vai para os bolsos dos mandachuvas, e não dos músicos e demais colaboradores da Filarmônica.

SENTEM, QUE VAI DOER

Sim, caros contribuintes e “defensores da causa” enganados. Apenas a diretoria – lembrem-se de que é uma entidade privada – embolsa, sob salários e benefícios, algo como 150 mil reais mensais. E apenas os dois principais maestros, ainda que um muito mais do que o outro, recebem cerca de 3 milhões de reais por ano, chova ou faça sol. Melhor dizendo: chova, faça sol ou tenha pandemia. Não entenderam? Eu explico.

Digo isso porque, durante a maldita pandemia do novo coronavírus (toc, toc, toc), essa turma toda não ficou sem os salários, e sabem por quê? Porque foram bater à porta da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), pedindo apoio financeiro. E receberam. Mas hoje, quando novamente procurados – os empresários malvados e gananciosos -, e novamente solícitos, são achincalhados e acusados levianamente.

CAPITALISMO PRA QUE TE QUERO

A guerra que citei acima não é apenas contra o estado de Minas Gerais, que sustenta a Filarmônica (incluindo diretores e maestros nababescamente pagos), mas contra a Fiemg, que procurada pela Codemig para gerir a Sala Minas Gerais, a partir de uma indicação do ICF de incapacidade de manutenção do espaço, para não sobrecarregar ainda mais o contribuinte mineiro, assumiria a operação do local.

Eu desenho: a Filarmônica sinalizou ao governo que iria desistir do contrato de exploração da Sala Minas Gerais ao final deste ano, salvo se recebesse mais aportes financeiros. O governo, então, prudente e ágil, tratou de procurar a iniciativa privada (Fiemg). Flávio Roscoe, presidente da entidade, ciente do belíssimo trabalho realizado pelo SESI MINAS neste setor, aceitou ficar com e descascar o abacaxi.

NÃO LARGAM O OSSO

Porém, tão logo oficiados que poderiam devolver o local, ainda que o contrato só termine daqui a alguns anos, a Filarmônica, ou melhor, seus gestores, na iminência de terem uma entidade dessas na gestão do espaço, sentindo o odor de “máxima governança corporativa”, correram para dinamitar o acordo entre governo e Fiemg/Sesi, espalhando mentiras, desinformação e atirando a “catchiguria” contra os malvados capitalistas selvagens.

Nesta terça-feira (16), então, após uma série de mentiras e ofensas recebidas dos gestores da Filarmônica, a Fiemg e o Sesi, através do presidente Flávio, anunciaram o fim das tratativas do acordo para cogestão da Sala Minas Gerais, que não apenas revitalizaria o espaço, ativaria o equipamento, o abriria para mais orquestras e eventos, democratizaria ainda mais a frequência, o tornaria superavitário e deixaria de contar com dinheiro público.

TOMA, QUE O FILHO É TEU

De forma bem simplória, disseram: toma, que o filho é teu! Agora, o ICF terá de conseguir recursos suficientes, não apenas para satisfazer os custos correntes, mas para pagar uma dívida milionária (em atraso) com o governo de Minas. Um renomado maestro, cujos vencimentos mensais superam os 100 mil reais, declarou: “uma sede não se cede”. Bem, uma sede se paga. Do contrário, realmente não se cede, se devolve por inadimplência. 

Resumindo a ópera bufa tupiniquim, mais uma vez, ao que parece, venceu o perverso modelo de transferência de renda, vigente no Brasil desde que os portugueses aqui chegaram: endinheirados, com influência, organização e boa propaganda, se aproveitam dos miseráveis desorganizados, em nome dos… miseráveis desorganizados! E uma entidade de classe em busca de otimização e eficiência do dinheiro público, é usada como palanque para proselitismo político chinfrim.

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Encontro contou com a presença de dirigentes do partido e parlamentares do Congresso