A análise da campanha de Rogério Correia sobre a ausência de Lula no palanque em BH

Estratégia do governo federal de ‘poupar’ o presidente de disputas municipais compõe avaliação, feita por lideranças petistas
O deputado federal Rogério Correia
Embora tenha Lula como cabo eleitoral, Rogério Correia ainda não fez eventos de campanha ao lado dele. Foto: Luiz Santana/ALMG

Aliados do deputado federal Rogério Correia, que disputa a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pelo PT, atribuem a uma estratégia do Palácio do Planalto a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em atos de campanha do correligionário na capital mineira. A avaliação é que o governo federal decidiu evitar expor Lula a disputas locais — sobretudo onde há partidos da base aliada concorrendo.

A despeito da ausência física de Lula, Rogério disse, a O Fator, que sua campanha prepara um “programa especial” com a participação do presidente da República para ser exibido às vésperas do primeiro turno, marcado para domingo (6). 

“Temos colocado, todo dia, nos programas, Lula pedindo votos para mim. É claro que gostaríamos muito dele estar aqui, mas a gente compreende. O importante é o povo compreender o apoio que o presidente Lula está nos dando”, afirmou.

Interlocutores do PT ouvidos pela reportagem avaliam que a ausência de Lula não é exclusividade de Belo Horizonte e se estende a outras capitais e municípios estratégicos. Na visão de um integrante da campanha de Rogério, fogem à regra apenas as cidades de São Paulo (SP) — onde há uma disputa entre nomes como Guilherme Boulos (Psol), Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB) — e São Bernardo do Campo (SP), domicílio eleitoral do presidente da República. Nas duas cidades, Lula participou de atos de campanha.

Para uma fonte com quem O Fator conversou, a presença, na eleição em BH, de partidos com papel importante no governo, como o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin e o PSD, podem ter contribuído para a postura adotada por Lula.

Aposta em ministros

Sem Lula no palanque, Rogério Correia recorreu a agendas com ministros de Estado. Nomes como Nísia Trindade, da Saúde, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, aproveitaram passagens por BH para apoiar a empreitada do deputado federal. Outras lideranças do governo, como o ministro da Educação, Camilo Santana, e a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, apareceram nas inserções televisivas do partido.

Para o presidente do PT em BH, Guilherme Jardim, o Guima, a questão precisa ser analisada sob o prisma nacional.

“Somos a parte municipal de um partido que é nacional. Não podemos olhar apenas para nosso próprio umbigo”, apontou, a O Fator.

No mês passado, as equipes da campanha de Rogério e do Planalto chegaram a iniciar as conversas por um comício com a presença de Lula em BH. Houve, entretanto, uma mudança na data prevista para o encontro, o que acabou frustrando os planos.

Desafio das dissidências

O mais recente levantamento da Quaest Consultoria e Pesquisa (MG-09740/2024), divulgado na segunda-feira (30), aponta Rogério com 5% das intenções de voto. Em meio às dificuldades para crescer ante o eleitorado, o entorno do petista precisou lidar com o apoio formal do PV à candidatura de Fuad Noman (PSD). O movimento, pensado para evitar um segundo turno entre Mauro Tramonte (Republicanos) e Bruno Engler (PL), filiados a dois partidos à direita, foi acompanhado por filiados ao PCdoB.

Embora verdes e comunistas façam parte da federação liderada pelo PT, as dissidências têm sido minimizadas no entorno da campanha de Rogério. A avaliação é que o PV nunca esteve, de fato, mergulhado em prol da vitória do petista.

Para auxiliares de Rogério, em que pese o desempenho ruim nas pesquisas, ainda é possível ganhar terreno a partir, sobretudo, da franja indecisa do eleitorado e de cidadãos que demonstram disposição de votar em um nome com o aval de Lula.

Antecedentes conturbados

A candidatura de Rogério, cabe lembrar, teve como uma das fiadoras a tesoureira nacional do partido, Gleide Andrade. Ela foi uma das vozes a defender, no seio petista, que a legenda deveria encabeçar uma chapa em BH porque já havia cedido o posto a Eduardo Paes, do PSD, no Rio de Janeiro, e a Boulos, em São Paulo. Para essa ala da agremiação, não faria sentido o PT participar da eleição sem candidatos nas três principais cidades do Sudeste.

Outros setores do partido, entretanto, chegaram a sinalizar a predileção por um apoio a Fuad Noman. Embora a construção não tenha vingado, o prefeito, que concorre à reeleição, nutre boa relação com Lula.

Agora, como já mostrou a reportagem, há, entre apoiadores de Rogério, quem estabeleça, como meta, ter um desempenho superior ao obtido pelo também deputado federal do PT Reginaldo Lopes, que em 2016 representou a sigla na eleição belo-horizontina. Reginaldo terminou aquele pleito com 7,27% dos votos válidos

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