Indícios de caixa dois? Tramonte deveria afastar Kalil e Adalclever; já

Não conheço Tramonte pessoalmente. Tampouco sua trajetória política. Intuo que agora conhecerei. Veremos quem realmente ele é
Tramonte manterá Kalil na campanha?
Kalil teria provocado um aumento à rejeição de Tramonte. Foto: Divulgação

Já ensinavam os romanos, lá pelos idos de antes de Cristo: “À mulher de César não basta ser honesta; tem de parecer honesta”. Mauro Tramonte, deputado estadual pelo Republicanos e candidato à prefeitura de Belo Horizonte, deveria saber disso ainda antes de ter selado aliança política com Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte envolvido em uma penca de ações judiciais trabalhistas, fiscais e eleitorais.

Apresentador do programa Balanço Geral, da TV Record Minas, a “voz dos evangélicos conservadores”, Tramonte se encontra no segundo mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Na primeira eleição, obteve mais de 500 mil votos, mas viu seu cacife eleitoral derreter como gelo ao sol, e conseguiu apenas pouco mais de 100 mil votos na reeleição, em 2022. A depender, tudo pode piorar.

Foi neste ano que Alexandre Kalil concorreu ao governo do estado, justamente contra o atual governador Romeu Zema (Novo), aliado de Tramonte e do próprio Kalil nessa chapa “sem pé nem cabeça”, criada após a saída do ex-prefeito do PSD – partido do principal concorrente de Tramonte, Fuad Noman – em meio à acusações de que gastava (Kalil) mais de 60 mil reais mensais com salários de funcionários próprios.

Verões passados

Kalil foi eleito e reeleito prefeito de Belo Horizonte, a despeito de dívidas de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) com a cidade, e teve as contas de campanha (de 2016) rejeitadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após rumoroso caso envolvendo um apartamento e mais de dois milhões de reais em uma suposta simulação. Em decisão da Justiça Eleitoral, foi condenado a ressarcir os cofres públicos.

Eis porque – mas não só por isso! – Tramonte não deveria ter trazido o ex-presidente do Atlético (clube que deixou afundado em dívidas e com auditorias internas a apontar inúmeros problemas de gestão) para sua campanha. Kalil é historicamente ligado a movimentos e partidos de esquerda, antagônicos, portanto, aos valores evangélicos, além de literalmente odiado pelo partido Novo, de sua vice Luísa Barreto.

Agora, o candidato que lidera a corrida eleitoral, segundo as mais recentes pesquisas de opinião, seguido de perto pelo atual prefeito Fuad Noman, tem seu coordenador de campanha, Adalclever Lopes, aliado histórico e homem de confiança de Kalil, envolvido em um grave caso, noticiado em primeira mão por este O Fator, e depois pela Rádio Itatiaia e CNN, em que indícios de caixa 2 de campanha são verificados. Explico.

Batom na cueca é pouco

Segundo uma ação judicial em curso na capital, a empresa de comunicação da ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) cobra mais de 1.5 milhão de reais do PSD-BH por serviços prestados à campanha de Alexandre Kalil ao governo do estado, em 2022. Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo diria: “cuma”? Pois é. O PSD municipal contratou serviços para a campanha estadual de Kalil. Pode isso, Arnaldo?

Bem, segundo advogados eleitorais ouvidos, não. Não pode. Se o partido, à época presidido por Adalclever Lopes – Alô, Mauro Tramonte! – ao menos declarasse a contratação e “doasse” à campanha, vá lá. Mas nada disso foi feito. Adalclever contratou, não declarou e não pagou. Isso, popularmente, tem nome: Caixa 2 de Campanha. Além de calote. Ê, Kalilzão véi de guerra! Mais um, hein, mané?

Desenhando: Adalclever, braço direito de Kalil, presidiu o PSD de BH por poucos meses. Contratou os serviços da Manuela pelo partido, mas para trabalhar para a campanha estadual de seu chefe. Nem Adalclever nem Kalil declararam os serviços e os gastos à Justiça Eleitoral. Também não pagaram (no caso de Kalil, novidade alguma). A empresa, agora, cobra judicialmente, e o partido que se vire.

E aí, Tramonte: vai fazer o quê?

Bem, segundo interlocutores do PSD, a legenda, tão logo seja citada e tome conhecimento do processo, irá procurar o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) e “pedir imediata apuração, já que é um partido limpo, regular e que jamais participaria de esquema de caixa dois”. E prometem, ainda, a responsabilização pessoal de Adalclever (contratante) e Kalil (beneficiário). “O PSD é vítima”.

A Justiça cível irá deliberar sobre o contrato e a cobrança. A Justiça eleitoral e criminal se debruçarão sobre o assunto, se e quando provocadas pelo partido e pelo MP. Mas e Tramonte? Como irá se comportar o candidato dos “cidadãos de bem”? Manterá na campanha, em cargos estratégicos de direção, Alexandre Kalil e Adalclever? Se positivo, no mínimo, não enxerga nada de mais no comportamento deles.

Errar é humano. Persistir, não. Ser honesto não basta. Cercar-se de gente honesta é fundamental. Gosto muito da analogia entre âncora e balão. Uma pessoa, ao nosso lado, pode atuar nos afundando ou nos elevando. Cabe a nós a decisão. Mas é preciso caráter, dignidade e coragem. Não conheço Tramonte pessoalmente. Tampouco sua trajetória política. Intuo que, agora, conhecerei. Veremos quem realmente ele é.

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