Líderes perversos, massas obtusas e um mundo imprevisível

A reação generalizada ao atentado sofrido por Donald Trump praticamente subscreve meu pessimismo
Líderes políticos como Donald Trump podem levar o mundo ao desastre
Trump com um de seus "amiguinhos" atômicos, King Jong-un, da Coreia do Norte (Foto: Saul Loeb/AFP)

Viver em sociedade organizada é, talvez, um dos maiores elos dos seres humanos com os animais. É abundante, na vida selvagem, a organização, em grupos, de espécies semelhantes. E as coincidências continuam sob as formas de hierarquia, distribuição de tarefas, criação dos filhotes. Somente tal capacidade garante a abundância de alimentos, segurança da coletividade e, de alguma maneira, maior “bem-estar emocional”.

A espécie humana, dotada de habilidades únicas, evoluiu a ponto de não apenas se organizar socialmente, mas transformar a própria existência – e subsistência – a partir da colaboração mútua, em grupos, onde cada indivíduo – e suas habilidades – contribui para o sucesso coletivo. Das atividades domésticas, agrárias e industriais, passando por profissões indispensáveis (médicos, por exemplo), conquistamos o mundo que temos hoje.

Mas… tá difícil

Sim. A organização em sociedade, repito, foi e é fundamental para a humanidade existir – e coexistir -, mas, convenhamos, em boa parte também é “phoda” de aguentar. Afinal, como tolerar práticas inaceitáveis de violência (física, psicológica, emocional…), praticadas por nossos semelhantes contra nós mesmos? Pior. Como tolerar a leniência, cumplicidade e, no limite, a impunidade derivadas de tantos e diuturnos atos selvagens?

Como quaisquer espécies e bandos, boa parte dos humanos deixa-se não apenas guiar, mas idolatrar e obedecer cegamente seus “machos-alfa” – no caso, líderes políticos. São eles os fornecedores do combustível tóxico que sufoca as sociedades atualmente. Nem mesmo o fundamentalismo religioso, hoje, é tão nocivo e perigoso. Até as disputas territoriais regionalizadas perderam relevância diante deste mal maior, pois global.

Líderes tóxicos

Aliás, disputas territoriais, fundamentalismo religioso, brigas por riqueza etc. não nascem espontaneamente na natureza. São pensadas, gestadas, disseminadas e praticadas por gente de pele e osso, “machos-alfa” que seduzem e subjugam seu entorno e formam, a partir daí, exércitos – no sentido crasso e figurado – para a luta que promovem por suas próprias crenças e valores (via de regra, egoístas e danosos ao coletivo).

Ao longo da história, os piores crimes contra a humanidade não partiram de “sociedades organizadas”, mas de líderes doentes, obcecados e atormentados como Pol Pot, Mao, Lenin, Stalin, Mussolini, Hitler, que levaram suas massas à práticas odientas. Talvez a escravidão – para mim, o maior crime já praticado contra a humanidade, lado a lado com o Holocausto – tenha sido criada e difundida, organicamente, e não por um único facínora.

Polarização suicida

A divisão binária das sociedades atuais deriva diretamente deste comportamento servil entre liderados e líderes, não tendo a reação necessária – em tamanho e força – dos membros autossuficientes e independentes. Gente como eu, que não caminha cabisbaixa e muda rumo ao matadouro (ao som do berrante), enquanto o pastor jacta-se em segurança, tem se tornado mais uma das vítimas da maldade quase globalmente onipresente.

São Xi, Trump, Lula, Bolsonaro, Putin, Maduro, Bibi e Khamenei, dentre tantos, em maior ou menor grau de malignidade e perversidade, em maior ou menor capacidade destrutiva, os responsáveis pelo seu vizinho, seu amigo de infância, seu irmão, seu pai, meu Deus!!, dizerem, pregarem e até praticarem atos bárbaros – por se tornarem obtusos e incapazes de ler, analisar e compreender algo com mais conteúdo que um meme de WhatsApp.

Encerrando com pessimismo

Não sei se a situação atual é reversível ou se já atingimos o tal “ponto de não retorno”. Tendo a ser pessimista neste sentido, pois me parece que nada tem sido capaz de abrir os olhos – não das bestas-fera, pois sem cura – mas de gente com “potencial” para não chafurdar na lama obscura da violência gratuita e generalizada, principalmente nas redes sociais, o maior agente catalisador da selvageria que impera neste mundão de meu Deus.

A reação generalizada ao atentado sofrido por Donald Trump praticamente subscreve meu pessimismo. Pré-julgamentos de toda ordem e sorte, majoritariamente raivosos e obtusos – contra tudo e todos – dão mostras do nível atual e generalizado de ignorância e pulsão de morte. Isso, nas mãos dos líderes políticos atuais, é nitroglicerina pura, ou melhor, ogivas nucleares, que em algum momento irão explodir sobre nossas cabeças ocas.  

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