Não tenho lado político. Ou melhor, tenho. O meu. Escolho meus candidatos pensando em mim, na minha família, nos meus amigos, na minha comunidade, na minha cidade, no meu estado e no meu país. E sim. Nessa exata ordem. “Nossa, o Ricardo não é patriota”. Ainda bem, né? Deixo isso para os canalhas, como já ensinou há séculos Samuel Johnson (1709-1784), se é que conhecem a célebre frase a respeito de patriotismo.
A ex-presidente Dilma Rousseff, aquela célebre estoquista de vento e saudadora de mandioca, certa vez balbuciou: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”. Um país que resiste a isso, resiste a tudo. Inclusive a cloroquina, ivermectina e 8 de janeiro. Aliás, é impressionante como essa senhora tornou-se mera “boca de aluguel” de ditadores e terroristas.
Não vivo sem futebol. Digo, sem o Atlético. E se há um time mais roubado na história do futebol brasileiro, desconheço. Talvez, por isso mesmo, tenha a mais apaixonada e fiel torcida de todas. A cada título nos tomado na mão grande, nos levando a uma seca de mais de 40 anos, nos abatia, nos abalava, mas o “como” perder nos enchia de empatia, solidariedade, esperança e, principalmente, garra, orgulho, perseverança, amor.
Escolhas e consequências
Como em tudo na vida, a política faz vencedores e perdedores. Uns provisórios, outros, eternos. É possível ganhar perdendo e perder ganhando? Sim. Sempre. A vitória, ou derrota, não está no resultado final, mas no caminho percorrido. Se Fuad Noman (PSD) vencer no domingo, poderá se orgulhar. Se perder, idem. Mas Bruno Engler (PL)… Sinceramente, não. E é uma pena, pois um jovem que poderia ter escolhido outro caminho.
Ao abraçar o radicalismo típico do bolsonarismo canhestro, ao mentir deliberada e desavergonhadamente sobre a gestão – cheia de problemas, sim, é verdade, como todas – de Fuad, mas, sobretudo, ao utilizar as mais baixas formas de propaganda negativa contra seu adversário, Bruno, um rapaz educado, inteligente, bem-intencionado (eu creio) e que poderia trazer bons ares à política, escolheu a trilha do mal.
E não culpem – jamais! – aliados, marqueteiros, cientistas políticos etc. que orbitam sua campanha, pois a decisão foi dele. Sim. Apurei com muita gente, e todos disseram a mesma coisa: “Foi Engler quem escolheu essa linha“. Aliás, tem dito, publicamente, que tem lado: Bolsonaro, Nikolas e Cleitinho. Inclusive, sobre o senador, é outro que me dói a alma vê-lo pender para o obscurantismo e a política rasteira.
O espelho julga
Estou com 57 anos de idade. Cada vez mais me sinto feliz e realizado. Olho para trás e não encontro uma mísera linha que ultrapassei no sentido de fazer mal, deliberadamente, a alguém. Jamais, em tempo algum, lesei qualquer pessoa. Tampouco “derrotei” alguém de forma vil. Meu maior legado à minha filha e aos meus sobrinhos será meu comportamento. Espero, sem modéstia alguma, que me tenham como exemplo.
Não sei se faltam – ou faltaram – bons exemplos a Engler. Não sei se fraco, intelectual e emocionalmente e, portanto, manipulável. Não sei se mau caráter mesmo. Enfim. Só sei que este rapaz escolheu sair menor do que entrou nesta campanha. Vencendo ou perdendo, já é um perdedor. Talvez, no futuro, com quase 80 anos como tem seu adversário, olhe no espelho, lembre-se destes dias e se envergonhe. Ou não. Vá saber.
Encerro com um justo reconhecimento: Gabriel Azevedo (MDB), presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), escolheu sair maior. Além dos mais de 130 mil votos conquistados, fez uma campanha limpa, ao contrário do que vinha fazendo na pré-campanha. E mais: foi coerente e manteve-se à parte na disputa entre Fuad e Engler, o oposto, por exemplo, de Duda Salabert (PDT), que se mostrou uma legítima oportunista.