O que a Estônia pode ensinar ao Brasil?

Durante minha visita à Estônia, na última semana, fui tomado por um misto de admiração e frustração. A admiração, por ver como um pequeno país, saído das cinzas da União Soviética, conseguiu se tornar um dos lugares mais prósperos e modernos do mundo em menos de três décadas. A frustração, por perceber o quão distante o Brasil está de trilhar um caminho semelhante, apesar de termos, nas últimas décadas, oportunidades comparáveis, ou até maiores, de fazer algo parecido.

A Estônia, em 1991, era um dos países mais pobres da Europa. Seu PIB per capita era de apenas US$ 2.800, enquanto o Brasil, à época, já tinha um PIB per capita de cerca de US$ 3.000. Hoje, a realidade é inversa: a Estônia tem um PIB per capita superior a US$ 26.000, enquanto o Brasil mal passa dos US$ 9.000. Essa disparidade não surgiu do acaso, mas sim das escolhas que ambos os países fizeram ao longo dessas três décadas. Enquanto a Estônia apostou em reformas profundas, liberdade econômica e um Estado enxuto e eficiente, o Brasil, muitas vezes, preferiu o caminho fácil do populismo e do estatismo.

A transformação estoniana não foi mágica, foi resultado de um conjunto de políticas bem estruturadas. Um dos aspectos que mais me chamou a atenção foi a digitalização do governo. Na Estônia, 99% dos serviços públicos estão disponíveis online, o que torna o Estado mais transparente, ágil e acessível ao cidadão. Aqui, no Brasil, ainda enfrentamos filas intermináveis, burocracia asfixiante e ineficiência em praticamente todos os setores públicos. Enquanto a Estônia empodera seus cidadãos, facilitando suas vidas, nós, brasileiros, continuamos presos a um sistema que nos trata como súditos, e não como clientes do serviço público.

Outro ponto que merece destaque é a liberdade econômica. A Estônia está constantemente entre os países mais livres economicamente no mundo, segundo o índice da Heritage Foundation. O ambiente de negócios é simples, os impostos são baixos e o governo se abstém de intervir excessivamente na economia. Enquanto isso, no Brasil, vivemos uma realidade de carga tributária sufocante, regulamentações complexas e uma interferência estatal que, muitas vezes, apenas atrapalha o crescimento econômico.

Quando comparo as reformas estonianas com as oportunidades perdidas pelo Brasil, o pessimismo só aumenta. Nos anos 90, ambos os países estavam em posições similares. O Brasil poderia ter aproveitado o impulso das privatizações e das reformas econômicas para criar uma base sólida de crescimento, mas, ao invés disso, optamos por retroceder em muitos aspectos. A Estônia, ao contrário, implementou políticas de combate à corrupção e garantiu a integridade das instituições, ao passo que, no Brasil, a corrupção foi quase institucionalizada, dificultando qualquer avanço consistente.

O combate à corrupção na Estônia é um exemplo claro de como um país pode se reinventar. A transparência no serviço público, aliada a uma justiça eficiente, fez com que a corrupção fosse minimizada. No Brasil, o que se vê é um sistema judicial complexo e moroso, que muitas vezes favorece a impunidade. Na Estônia, a punição é certa, rápida e exemplar; aqui, a justiça tarda e, muitas vezes, falha.

A integração da Estônia à União Europeia e à OTAN também foi um passo crucial para o seu desenvolvimento. Ela soube aproveitar esses acordos para garantir segurança, estabilidade e crescimento econômico. Enquanto isso, o Brasil, com sua postura isolacionista e suas escolhas equivocadas em termos de alianças internacionais, perdeu diversas oportunidades de se posicionar como uma potência emergente de fato.

Costumo pensar na frase de Roberto Campos: “O Brasil tem três saídas: Guarulhos, Galeão e o Liberalismo”. E, sinceramente, acho que, hoje, só mudaram as opções de aeroportos. O que a Estônia nos ensina é que não há caminho fácil. Reformas são dolorosas, exigem sacrifícios, mas os resultados, como se vê por lá, são extraordinários.

Enquanto a Estônia mostra que é possível criar um país onde o Estado serve ao cidadão e não o contrário, o Brasil insiste em seguir o caminho oposto. Continuamos presos ao velho hábito de pensar que o Estado pode resolver todos os nossos problemas, quando, na verdade, ele é, muitas vezes, o próprio problema.

Em última análise, a Estônia nos ensina que um país pequeno e com poucos recursos pode, sim, prosperar se fizer as escolhas corretas. E o Brasil, com toda sua grandiosidade, continuará patinando enquanto insistir em escolher o caminho mais fácil e populista.

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