Kalil e Novo: tinha tudo para dar M… e deu!

Ainda que o oportunismo eleitoral e a sede de Poder ceguem, certas coisas são excludentes, ou não se misturam, como água e óleo
Kalil e Novo: tinha tudo para não funcionar, e não funcionou
Menos de 24 horas depois, já acabou o amor (Foto: Rodrigo Lima/Divulgação-Republicanos)

A política, felizmente ou infelizmente, não é uma ciência exata. Por isso, as habilidades pessoais (carisma, oratória, imagem etc.) pesam tanto para o sucesso de um político. Em tempos de redes sociais e tiktoks da vida, então, aptidões técnicas e preparo geral deixaram de ser requisitos para o sucesso de qualquer candidato.

Contudo, às vezes, políticos e partidos ultrapassam a fronteira do permitido – praticamente tudo – para ganhar uma eleição, e avançam sobre um terreno que o eleitor costuma não perdoar: a traição. Sim. O eleitorado brasileiro, via de regra, com sua memória curta e frouxidão moral, aceita tudo (inclusive corrupção), menos o papel de “corno”.

Este é o sentimento dos eleitores do Novo e da maior parte do eleitorado de centro e centro-direita de BH, por causa da sociedade oportunista entre o Partido Novo, de Romeu Zema e Mateus Simões, com o Republicanos, de Cleitinho e Damares, para a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte em outubro próximo.

O estorvo Alexandre Kalil

Os partidos se uniram em torno da chapa de Mauro Tramonte (deputado estadual pelo Republicanos) e Luísa Barreto (Novo), ex-secretária de Planejamento e Gestão do governo Zema. Até aí, nada de mais. Estamos falando de partidos e de políticos do mesmo espectro ideológico e até mesmo de bons candidatos.

O busílis foi a entrada do ex-prefeito Alexandre Kalil – recém saído do PSD, partido do prefeito Fuad Noman – no Republicanos. Kalil é conhecido e reconhecido por suas afinidades com a esquerda. Em 2022, por exemplo, foi candidato ao governo de Minas e fez campanha (dobradinha) com o presidente Lula.

Além disso, jamais poupou críticas e ofensas ao governador Romeu Zema, a quem cansou de chamar de mentiroso. Mais: sempre foi duramente combatido – e sempre revidou – pelos vereadores do partido Novo, incluindo o próprio Mateus Simões, hoje vice-governador, quando era vereador em Belo Horizonte.

Histórico de confrontos

Um exemplo foi a CPI do Abuso de Poder, em 2023, relatada pela sempre competente e vigilante Fernanda Altoé, vereadora do Novo. Durante as oitivas, fatos como o de uma prestadora de serviços da PBH, que pagava despesas pessoais do então prefeito e depois era reembolsada com envelopes de dinheiro vivo, provocaram ataques de lado a lado.

Quando vereador, Mateus Simões combatia o prefeito com extrema frequência e vigor. Durante a campanha para o governo do estado, novamente. Uma outra vereadora do Novo, Marcela Trópia, é aliada de primeira hora de Gabriel Azevedo (MBD), desafeto e adversário ferrenho de Alexandre Kalil.

Para piorar, além das campanhas junto a políticos e partidos de esquerda, Kalil defende pautas diametralmente opostas ao Republicanos e o eleitorado evangélico. Em 2019, durante a Parada do Orgulho LGBT, Kalil, então prefeito, disparou contra os conservadores: “Fodam-se os que pensam o contrário. Fodam-se eles todos”, para o delírio dos presentes.

Evangélicos, água e óleo

Mauro Tramonte é apresentador do Balanço Geral, da TV Record, dos bispos da Igreja Universal. O Republicanos é aliado do presidente Jair Bolsonaro e possui em seus quadros nomes da direita radical como os senadores Cleitinho Azevedo (MG) e Damares Alves (DF). 

Ainda que o oportunismo eleitoral e a sede de Poder ceguem, certas coisas são excludentes, ou não se misturam, como água e óleo. Menos de um dia depois da convenção que oficializou a parceria entre o Novo e Kalil, a direção nacional do partido emitiu dura nota em desfavor da aliança:

O acordo político em torno da candidatura de Mauro Tramonte para prefeito de Belo Horizonte, tendo Luísa Barreto, do Novo, como candidata a vice-prefeita, foi estabelecido entre o Novo e o Republicanos, partido de Tramonte e também do governador Tarcísio de Freitas. Somente após o acordo firmado, todos foram surpreendidos com a filiação de Alexandre Kalil, nosso adversário político, ao Republicanos”.

Kalil botou o P na mesa

E prosseguiu o partido: “Esperamos que a escolha de Kalil em mudar de lado não seja fruto de oportunismo político, mas de uma reflexão genuína a respeito dos péssimos resultados apresentados por sua gestão na Prefeitura de BH”. Como de costume, suave como um elefante numa loja de cristais, Kalil botou o porrete na mesa e mandou ver: 

O Novo soltou uma nota hoje me citando. Minha resposta: oportunista é quem vem depois, querendo pegar carona na minha popularidade em Belo Horizonte. O Novo só está na chapa porque eu não vetei”. Querem saber? Bem feito para o Novo! Foi enquadrado por Alexandre Kalil e rebaixado a partideco sem expressão. 

E não cola esse papo de “surpreendidos”, porque todos os paralelepípedos de Belo Horizonte, conforme noticiou este mesmo O Fator diversas vezes, sabiam da costura entre Kalil e o Republicanos. O vice-governador Mateus Simões, em pessoa, foi o grande articulador da chapa.

Zema em segundo plano

Uma cena já havia chamado a atenção dos mais atentos durante a convenção de sábado (3): Kalil chegou por último ao local do evento e foi apresentado com pompas e circunstâncias, enquanto Romeu Zema, já sentado, foi obrigado a levantar e a saudar a “estrela do dia”. Ora, o último a chegar e a merecer a honraria deveria ser o chefe do executivo estadual, e não o coordenador da campanha. Um vexame para entrar para a história.

Mas isso apenas reforça a inabilidade do partido e o oportunismo de Kalil, e ratifica o que todos imaginam: “vai dar merda”. Eu mesmo, inclusive, em uma coluna recente, apontei os riscos para Tramonte. Interlocutores do Novo e do Republicanos pensam o mesmo. Esta aliança foi um verdadeiro tiro no pé. Se o eleitor vai pensar o mesmo, ou não, é o que iremos descobrir em outubro.

Seja qual for o resultado, a verdade não será apagada nem os fatos reescritos. O único vencedor dessa presepada toda foi Alexandre Kalil, pois no ostracismo em que se encontrava, não tinha nada mesmo a perder. Vamos observar a reação do Novo à descompostura humilhante a que foi submetido. Como é mesmo?:

Oportunista é quem vem depois, querendo pegar carona na minha popularidade em Belo Horizonte. O Novo só está na chapa porque eu não vetei” (Alexandre Kalil). Na boa… Tenham vergonha, senhores do Novo!

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