Advogado, pai, comunicador, empresário, esposo, palestrante, professor, escritor e dirigente de futebol. Sérgio Santos Rodrigues é múltiplo, inquieto, interessado, dedicado e visionário. Tem uma carreira já consolidada na advocacia, foi peça importante na reconstrução do Cruzeiro Esporte Clube, viaja o Brasil e o mundo compartilhando suas experiências, mas quer mais, e não se cansa de aprender nem de ensinar.
Formado em advocacia pela Fumec, em 2004, ainda na faculdade montou seu primeiro negócio. Direito empresarial e desportivo sempre foram suas áreas preferidas, tanto que constituiu carreira atuando especialmente com contencioso estratégico, e hoje, integra o quadro de sócios do escritório Rodrigues Santiago e Tonello, cuja veia empresarial é bem forte, assim como o direito público. “Tenho sócios que militam em outras áreas, mas minhas paixões sempre foram o empresarial e o desportivo”, diz.
Sua carreira como advogado é marcada por significativas atuações no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e em instâncias superiores, destacando-se pelas sustentações orais. Seu escritório, com sede em Belo Horizonte, conta com filial em Brasília, reúne mais de 20 profissionais altamente capacitados e demanda constantes viagens a trabalho. Por isso, embora o ensino também tenha marcado sua trajetória, a falta de tempo o afastou das salas de aula.
Especializações Diversas
Assim que se formou, Sérgio partiu para o mestrado e, aos 22 anos, já lecionava na renomada Escola de Ensino Superior Dom Helder Câmara, na disciplina de Direito Empresarial, além de seminários de Direito Desportivo. Posteriormente, também na Fumec, deu aulas sobre Introdução ao Estudo do Direito e Direito do Consumidor, na graduação e Direito Desportivo e Direito Empresarial na pós-graduação.
Questionado se voltaria a lecionar, cita a falta de tempo e diz que não abre mão da qualidade de seu trabalho. “É difícil, pois não gosto de fazer as coisas pela metade. Hoje, com a agenda de viagem que tenho e o foco em outras áreas, acaba não sobrando tempo para fazer direito. E não é só na sala de aula. A docência implica também em compromissos extra classe. Por isso, tenho direcionado essa minha paixão às palestras, falando sobre todas essas áreas nas quais adquiri experiência ao longo do tempo”, explica.
Justamente por tanto valorizar a capacitação profissional, Sérgio sempre buscou atualizar-se em suas áreas de atuação. Para além do Direito, formou-se na segunda turma do Curso de Gestão de Futebol da CBF e na primeira turma do Diploma da FIFA em Club Management. Além disso, completou um importante MBA em Gestão de Entidades Desportivas na Escola do Real Madrid, que lhe permitiu conhecer e fazer amizade com diversos ídolos do futebol mundial.
Por falar em futebol, muitos já conhecem o dirigente esportivo que ficou à frente da Presidência do Cruzeiro entre 2020 e 2023. Mas sua história com o Clube celeste vem de muito antes. “Sempre fui um apaixonado por futebol. Quando menino ia ao estádio com meu pai, que já possuía vínculo com o Cruzeiro, como conselheiro”, recorda.
Contudo, foi em 2009 que essa relação começou a se profissionalizar. Sérgio ingressou no Clube mineiro naquele ano, inicialmente como assessor jurídico da Presidência e superintendente de Gestão e Estratégia. Posteriormente, migrou para a área de Negócios Internacionais e de Futebol.
Em 2017, candidatou-se à Presidência do Clube, aos 35 anos, e perdeu por apenas 15 votos. Em 2020, em meio à pandemia de Covid-19, foi eleito presidente com 80% dos votos para um “mandato tampão”, mas, no mesmo ano, reeleito como candidato único para um exercício de três anos. Sérgio deixou a Presidência em dezembro de 2023, tendo eleito seu sucessor, Lidson Potsch, que segue até hoje no comando da Associação.
“Na minha primeira passagem pelo Cruzeiro, como assessor jurídico e superintendente, tive a oportunidade de vivenciar os três ambientes do Clube: Sede, Toca da Raposa 1 e Toca da Raposa 2. Isso me trouxe muito aprendizado. No jurídico, tivemos muitas vitórias, casos de repercussão nacional que permitiram que eu conhecesse o senador Carlos Portinho, por exemplo, o relator da Lei da SAF – Sociedade Anônima do Futebol. Como superintendente, ajudei a abrir algumas escolinhas do Cruzeiro fora do Brasil, levar os times para torneios internacionais e revelar atletas que hoje são destaques no cenário nacional. Depois, no futebol profissional, que é o que todo mundo almeja, pude realmente vivenciar o dia a dia de treinamento, vestiário, conversar com grandes técnicos e jogadores. Algo maravilhoso”, ressalta.
De torcedor a presidente
Sérgio trabalhou ininterruptamente no Cruzeiro até 2017. Naquele ano, como já explicado, decidiu sair candidato à Presidência do Clube, mesmo sem o apoio do então presidente, Gilvan de Pinho Tavares. Depois de uma eleição acirrada, Wagner Pires de Sá saiu vencedor. O ex-dirigente recorda, mais um vez, a pequena diferença de votos (52% a 48%), e diz que preferiu então se afastar da administração.
“Naquela época, eu realmente me afastei, ia menos ao estádio. Em 2019, estouraram as denúncias de irregularidades na gestão, o time foi rebaixado à série B do Campeonato Brasileiro e a diretoria acabou afastada, instituindo-se um Conselho transitório. Em seguida, veio a pandemia, que tornou tudo ainda mais difícil, lançaram uma nova eleição e eu decidi me colocar à disposição novamente”, conta.
Ele foi eleito e assumiu o desafio de organizar as contas do Clube, sem sua principal fonte de receita: o futebol. “Cheguei a ouvir que não daria conta, pois era advogado e não entendia de futebol. Respondi que naquele momento o Cruzeiro não precisava de gestão de futebol, mas de uma gestão de dívidas”, revela.
Pioneirismo na Lei da SAF
Em meio à maior crise do Cruzeiro, Sérgio percebeu que apenas a criação de uma SAF poderia salvar o clube. Foi então que articulou com os senadores Rodrigo Pacheco e Carlos Portinho, para acelerar a tramitação do Projeto de Lei que se encontrava paralisado no Congresso. Graças ao movimento, o projeto foi aprovado no Senado e na Câmara. O Cruzeiro, antecipando-se aos demais clubes, começou a se preparar. Com o apoio de consultorias renomadas e a inédita participação da XP na área desportiva, o Cruzeiro se tornou a primeira SAF registrada no Brasil, em novembro de 2021, sendo vendido, no mês seguinte, inaugurando o mercado de SAF no País.
A chegada de Ronaldo Fenômeno
O time passou por todo processo que qualquer empresa passa quando o assunto é aquisição. Números do clube foram levantados e apresentados ao mercado. E então, surgiu o nome de ninguém menos que Ronaldo Nazário. Sim, o Fenômeno! Aquele que foi revelado pelo Cruzeiro e depois brilhou pelo mundo. O período entre o primeiro contato e a assinatura do memorando de entendimento, já contemplando o controle do futebol, durou cerca de um mês.
“O Ronaldo cumpriu tudo o que foi proposto. Todos os compromissos financeiros e as metas estabelecidas. Ele assumiu todas as dívidas, incluindo as da Recuperação Judicial. O acordo foi: ‘você não precisa colocar tanto dinheiro agora, mas tem que bancar esse imenso passivo ao longo do tempo’. E isso vale para o Pedrinho (Pedro Lourenço), que acaba de assumir o negócio”.
Paixão versus negócios
Fazendo um paralelo de suas atuações na advocacia empresarial e na gestão de um clube de futebol, Sérgio cita as diferenças dos negócios, especialmente, em se tratando de renegociação de dívidas e até mesmo de um passo mais complexo, que é a recuperação judicial. Para ele, a principal diferença está na paixão.
“No clube, tem paixão, e na empresa, quando você é acionista, mesmo que ela perca um valor significativo na Bolsa de Valores, você não vai para a porta da sede pichar ou falar que vai matar o presidente. Já no futebol, não. Quando qualquer coisa acontece, as pessoas levam para o lado emocional. Além do alcance e repercussão das notícias. No caso da recuperação judicial, por exemplo, quando um atleta fica insatisfeito com seu crédito, uma entrevista que ele dá sobre o assunto reverbera muito mais. Tudo no futebol é mais amplo”.
E isso serve também para a SAF. Conforme Sérgio, antes da lei não havia compromisso com CNPJ de nenhum clube. O modelo associativo acabou fazendo com que praticamente todos os clubes brasileiros quebrassem. Os que não quebraram, têm dívidas bilionárias.
“Praticamente só o Flamengo conseguiu fazer uma gestão pura. O restante tem alguém de fora colocando dinheiro. Os dirigentes não se importavam com o CNPJ do clube. E quando chega um dono, isso muda. O negócio torna-se rentável, porque o mandato não vai acabar, e se der prejuízo ele vai ter que arcar. O investidor quer fazer o time vencer, porque ele só ganha dinheiro com a vitória no esporte. Só que existe um planejamento para aquilo, uma estratégia, e os resultados nem sempre vêm no tempo que o torcedor quer”, frisa.
Palestrante, Apresentador e Escritor
Com tanta experiência e o dom pela comunicação, o advogado e dirigente enveredou-se também para a escrita, os palcos e as ondas do rádio e canais da internet. É autor e coautor de oito livros, como “Comentários ao Estatuto de Defesa do Torcedor”, “O Direito Passado a Limpo” e “Futebol S/A: Reflexões Históricas, Jurídicas e Econômicas de Quem Liderou a Criação da Primeira SAF do Brasil”. Em coautoria, contribuiu para “Tópicos de Direito Municipal” e “Manual de Direito Desportivo”. Escreveu também livros específicos sobre o Cruzeiro, como “Nossa Sala de Troféus” e “O Palestra e os Palestrinos”.
Brasil e mundo afora, ele também aborda temas como gestão de futebol, SAF e decisões em momentos de crise, com a oportuna palestra “Sob Pressão”, que vem sendo reproduzida em diversas empresas.
Por fim, está à frente do “Fala campeão”, um talkshow com personagens do mundo do esporte, artístico e empresarial, abordando histórias de vida e empreendedorismo na Rede 98 e em todas as plataformas digitais da Rádio, alcançando mais de 400 municípios apenas em Minas Gerais. O programa já recebeu pessoas como Henrique Salvador, Fabrício Carpinejar, Sérgio Coelho, Henrique Portugal, Bruno Avelar, Alexandre Mattos, Hélio de La Peña, Rodrigo Carneiro, Marcus Salum, Gomes, Reinaldo, Willian, Marques, Sérgio Sette Câmara, Gustavo Caetano.
Pitaco do Kertzman
A vida não para de me reservar boas e gratas novidades e, principalmente, me surpreender. Atleticano fanático, jamais imaginei construir tão boa relação com um ex-presidente do Cruzeiro. É claro que tenho muitos e maravilhosos amigos cruzeirenses, mas não um dirigente (hoje, ex) do Clube. Sérgio possui qualidades pouco encontradas no meio do Futebol (qualificação acadêmica, preparo empresarial e experiência internacional de primeiro nível, dentre tantas outras), e foi o que me despertou a atenção em princípio.
Tenho profunda gratidão pelos chamados 4 Rs (Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador), pelo presidente Sérgio Coelho e por todos os investidores da SAF do Galo, mas descobri que, por dever de justiça e honestidade intelectual, devo gratidão anterior ao Sérgio, por ter sido decisivo no processo que instituiu a Lei da SAF no Brasil.
Porém, sempre como atleticano fanático, não posso, contudo, ser-lhe grato por sua gestão frente ao adversário celeste, afinal, não fosse seu belo trabalho, o Cruzeiro não estaria hoje vivo e sob as sempre competentes mãos de Pedro Lourenço e Waldir Pena.
Aliás, sobre isso, vale muito conferir o episódio de estreia do quadro A História da História – que irá trazer bastidores exclusivos de personalidades e fatos históricos – justamente com Sérgio Santos contando passagens até então inéditas de seus dias à frente do Cruzeiro. Confira abaixo: