Quem mora ou transita às margens da BR-356, entre a concessionária de automóveis Jorlan, na altura do BH Shopping, e o início do Anel Rodoviário, poderá ganhar em breve um belíssimo calçadão com ciclovia e pista de caminhada. Quem está à frente da iniciativa é o empresário Gilmar Dias, presidente do grupo EPO, que já tem o “de acordo” verbal da prefeitura de Belo Horizonte e da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).
No momento, Gilmar está formalizando a autorização junto à companhia responsável pela conservação da Mata do Cercadinho, área de vegetação nativa que faz limite com a rodovia. Assinado o contrato com a empresa, o empresário irá solicitar o aval do Instituto Estadual de Florestas (IEF).
Tão logo obtenha as autorizações, o presidente da EPO pretende buscar apoio de colegas para viabilizar o projeto. Seu sonho é que a requalificação da entrada de Belo Horizonte por aquele ponto, sirva de exemplo para que o mesmo ocorra em outras entradas da capital, como os entroncamentos com a Avenida Amazonas, no limite de Contagem, e as saídas para o Espírito Santo e para Brasília (DF).
Além do calçadão, o projeto por prevê a transformação da passarela de pedestres, que faz a transposição da rodovia em frente ao BH Outlet, em um portal de entrada de Belo Horizonte – o Portal Sul.
“Vai ser um orgulho para o belo-horizontino entrar na cidade dele por aquele ponto”, afirma Gilmar Dias.
Segundo o empreendedor, a decisão de levar adiante o projeto do calçadão se deve ao fato de, naquele trecho, ocorrerem muitos atropelamentos, tanto de ciclistas como de pedestres, que se espremem em uma faixa de acostamento de cerca de um metro e meio, em um trecho de rodovia por onde passam cerca de 120 mil veículos ao dia.
Via de contorno
Belo Horizonte poderá ganhar uma nova via de contorno, desta vez em sua porção sudeste. Não será uma rodovia como o Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte, de pistas duplas, que irá ligar Sabará, a nordeste da capital, à BR-262, a oeste, e terá suas obras iniciadas em meados do ano que vem. A nova via terá pistas simples, com mão e contramão, e irá conectar a BR-356, ao sul da capital, com Sabará, a nordeste, de onde partirá o Rodoanel.
Essa via alternativa será fruto da junção de duas outras. Uma, a ser construída, irá ligar a BR-356 a Nova Lima. A outra será a MG-437, que vai de Nova Lima a Sabará e será pavimentada, fechando-se, assim, o círculo rodoviário ao redor da capital.
A ligação entre a BR-356 e Nova Lima irá começar na altura do condomínio Miguelão, localizado 34 quilômetros ao sul de Belo Horizonte. Seu traçado seguirá, onde for possível, o de uma estrada que já existe na região e é utilizada como rodovia de serviço pela mineradora Vale. Onde não for possível aproveitar o traçado já existente, será construída a nova estrada.
A rodovia, segundo o secretário de Obras de Nova Lima, Marcelo Henriques, deverá custar cerca de R$ 200 milhões e será bancada, em cerca de 70%, pela mineradora. A verba restante será de responsabilidade da prefeitura de Nova Lima.
Será uma pista de 26 quilômetros que irá desembocar em Honório Bicalho, um distrito de Nova Lima. De lá, o motorista pegará a MG-030 e depois a MG-437, até chegar a Sabará. Marcelo Henriques acredita que em dois anos será possível terminar a elaboração do projeto de engenharia e executar o primeiro trecho da obra.
A outra perna dessa via alternativa – a MG-437, de 13 quilômetros – foi municipalizada recentemente e terá suas obras de asfaltamento iniciadas ainda este ano, com previsão de término em março de 2026. Além da pavimentação, serão feitas obras de drenagem e contenção de encostas. O custo da requalificação da MG-437 está estimado em R$ 50 milhões e será integralmente custeado pela Prefeitura de Nova Lima.
Estrangulamento viário
A prefeitura está fazendo investimentos em rodovias porque tem um sério problema a ser resolvido na ligação entre Nova Lima e Belo Horizonte. Trata-se do gargalo existente na transposição do BH Shopping e do bairro Belvedere. Ali, nos dias de semana, o trânsito começa a ficar lento por volta das 16h, só retomando à normalidade após às 20h.
“Às seis da tarde é um caos”, afirma Marcelo Henrique, que também é um personagem desse cenário, pois mora no bairro Buritis, em Belo Horizonte, e passa por ali todos os dias para chegar à prefeitura. Pela manhã, a lentidão vai das 7h às 10h.
Com a rodovia do Miguelão, o motorista que chega a Belo Horizonte pela BR-356 e tem Nova Lima como destino, não precisará mais passar pelo gargalo do BH Shopping, como faz atualmente. Da mesma forma, os condutores de Nova Lima que pretendem ir a Sabará ou planejam pegar a BR-381 em direção ao Vale do Aço ou ao Espírito Santo, não terão que passar pelo gargalo entre BH Shopping e Belvedere, e atravessar a capital. Bastará pegar a MG-437 e, em não mais que meia hora, estar em Sabará.
Marcelo Henriques estima que, apenas com a rodovia do Miguelão, será possível conseguir uma redução da ordem de 20% a 30% no número de motoristas que têm Nova Lima como destino, mas precisam passar pela área de trânsito estrangulado. A intenção, segundo ele, é, com essas e outras alternativas que as prefeituras de Nova Lima e Belo Horizonte estão projetando, dividir ao máximo esse fluxo que constitui, hoje, como ele ressalta, um sério problema de mobilidade entre as duas cidades.
Além da rodovia do Miguelão e da requalificação da MG-437, o projeto para reduzir o estrangulamento da MG-030 compreende um conjunto de viadutos e a construção de uma terceira obra viária, a do chamado Parque Linear do Belvedere, no trecho de cinco quilômetros da ferrovia desativada por onde antigamente era escoado o minério da mina de Águas Claras, da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR).
Nas áreas laterais da nova via serão implantadas quadras, praças e outros equipamentos de lazer. No centro da área de ferrovia será construída uma avenida que começará na portaria da antiga mina e terminará na BR-356, na altura da loja de implementos de construção Leroy Merlin.
A nova via passará por trás da loja. Lá, uma pista desviará o trânsito na direção de Belo Horizonte. A outra, na direção contrária, do Rio de Janeiro e também do Anel Rodoviário. O objetivo é o mesmo da rodovia do Miguelão e da MG-437: oferecer alternativas que evitem o uso da MG-030 no trecho próximo ao BH Shopping.
Complexo de viadutos
Também para desafogar a MG-030, a prefeitura de Nova Lima, em parceria com a de Belo Horizonte, trabalha no projeto de um complexo de viadutos que faria o redirecionamento de parte do tráfego, que hoje se concentra naquele trecho. Um deles é o da duplicação do viaduto que já existe sobre a BR-356, no encontro da MG-030 com a avenida Raja Gabaglia. A obra já foi licitada pela Prefeitura de Belo Horizonte e deve começar a ser realizada no mês que vem.
O segundo viaduto sob responsabilidade da Prefeitura da capital começaria na pista da BR-356, sentido Rio de Janeiro, logo após o viaduto do BH Shopping sobre aquela via e direcionaria o fluxo de transito para a MG-030, sob o pontilhão da antiga ferrovia. Esta intervenção evitaria que quem venha de BH no sentido Nova Lima na BR-356 tenha que usar o viaduto do BH Shopping para chegar à MG-030.
Outra obra seria o chamado “viaduto da ferradura”, sob responsabilidade da prefeitura de Nova Lima. O viaduto sairia pela pista da direita da MG-030, passaria por cima desta rodovia e da BR-356 e canalizaria o fluxo de quem sai de Nova Lima em direção ao Rio de Janeiro diretamente para a pista que corre nesse sentido.
Parque Linear
Entre os bairros Belvedere e Vila da Serra, há uma área desabitada e parcialmente abandonada, de aproximadamente 400 mil metros quadrados, equivalente a dez quarteirões da área central de Belo Horizonte. No centro dessa área havia, até 2002, uma ferrovia que transportava o minério extraído da mina de Águas Claras em direção ao porto. Com o fechamento da mina, a linha férrea também deixou de funcionar. A área, que pertencia à antiga Rede Ferroviária Federal, passou a compor o acervo da Secretaria do Patrimônio da União (SPU).
O leito da antiga ferrovia funciona como uma barreira entre os dois bairros. Assim, quem mora no Vila da Serra e pretende ir a Belo Horizonte, tem apenas duas alternativas para transpor o leito da antiga via férrea – as duas extremidades da avenida Oscar Niemeyer, popularmente conhecida como Seis Pistas.
Desde que a ferrovia deixou de ser utilizada, moradores dos dois bairros reivindicam a transformação daquela área em um parque linear, com áreas verdes e equipamentos de lazer, como quadras esportivas, calçadão, ciclovia e pista de caminhada.
Ao longo desse tempo, chegou-se a ventilar, em meados dos anos de 2010, a possibilidade de o leito da antiga ferrovia abrigar uma linha do metrô de Belo Horizonte, ligando o Belvedere e o Vila da Serra ao Barreiro. A iniciativa, contudo, acabou abandonada.
Com isso, voltou à tona o projeto do parque linear. A ideia defendida pelos moradores às margens da ferrovia, é de aquele espaço ser transformado apenas em uma área verde na qual seriam também instalados equipamentos de lazer. Como não se mostrou viável, em novembro de 2021, a SPU anunciou que a área seria leiloada.
Em março de 2022, o Ministério Público da União (MPU) entrou com uma ação civil pública para impedir o leilão. A instituição alegou que a área faz parte da Reserva da Biosfera do Espinhaço e, como tal, deveria ser utilizada unicamente para projetos de interesse coletivo. No dia 18 de março daquele ano, o juiz Mário de Paula Franco Júnior visitou o local. Na sequência, emitiu uma liminar suspendendo o pregão.
Solução a caminho
Criou-se, então, um impasse, no qual interveio o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que costurou, com as prefeitura de Belo Horizonte e Nova Lima, um modelo alternativo, que contempla o que reivindicam os moradores, mas inclui, no centro do terreno, uma via estruturante que ocupará apenas um quinto da largura da área.
A nova avenida percorrerá todo o trecho de 5,3 quilômetros, que começa na portaria da antiga mina e termina na altura da loja Leroy Merlin, de onde sairão as vias que direcionarão os veículos para as pistas no sentido do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Ao longo de todo o trajeto haverá muita área verde, ciclovia e pista de caminhada.
No trecho de 1,5 quilômetro, localizado no meio dos bairros Belvedere e Vila da Serra, serão implantados equipamentos de lazer como quadras esportivas, anfiteatro, playgrounds, lanchonetes e sanitários. Nesse espaço, serão abertas as ruas que farão a comunicação entre os dois bairros. O arquiteto André Pessoa Ayres, responsável pela elaboração do projeto inicial do parque, ressalta que a “comunicação” é um dos componentes importantes da proposta.
André Pessoa considera que são três os aspectos contemplados no projeto. O primeiro é o da preservação das áreas verdes; o segundo é a melhoria da mobilidade a ser proporcionada pela construção da avenida ao longo de todo o trecho; depois, o fato de o parque linear fazer a conexão da área verde, a ser nele implantada, com as áreas de preservação permanente já existentes na região, em terrenos particulares localizados no entorno do Vila da Serra e de grande potencial imobiliário futuro.
Segundo André, os terrenos somam cerca de 700 mil metros quadrados, que acrescidas das áreas verdes do parque linear, totalizariam cerca de um milhão de metros quadrados. A ideia, segundo o arquiteto, é que os futuros empreendimentos imobiliários sejam edificados em meio aos espaços de convício com a natureza, para que estas possam ser realmente utilizadas pelos futuros moradores, que se valeriam da avenida a ser construída como via de entrada e saída.
O próximo passo é a realização de uma audiência pública para a apresentação do projeto, prevista para acontecer até dezembro, de forma a se cumprir os 180 dias acertados por ocasião do acordo firmado pelo MPMG com as prefeituras de Nova Lima e Belo Horizonte e a SPU.