BH de portas fechadas – Parte 1: o problema

O esvaziamento do hipercentro teve início nos anos 1960, quando moradores de maior poder aquisitivo se mudaram para a Savassi
Lojas fechadas no Centro de BH
Rua da Bahia com lojas fechadas e pouco movimento nas calçadas, uma cena que ilustra números obtidos em levantamentos feito pelo O Fator sobre esvaziamento do hipercentro de BH (Foto: Uarlen Valério/O Fator)

Incrustrada no meio do hipercentro de Belo Horizonte, a avenida Afonso Pena é testemunha do apogeu e decadência da área central da capital mineira. Nela estão edificações de alto valor arquitetônico, como a sede do Tribunal de Justiça de Minas e a igreja de São José, ambos tombados pelo patrimônio histórico. Também é na Afonso Pena que estão dois dos principais equipamentos culturais da cidade: o Palácio das Artes e o Cine Brasil Vallourec. 

Em meio a estes símbolos, da época de ouro do hipercentro, estão, na mesma avenida, algumas dezenas de lojas fechadas, retrato acabado do lento processo de esvaziamento da região, que se iniciou há mais de meio século, e segue avançando no tempo, lentamente, ano após ano. Hoje, no trecho da Afonso Pena que corta o hipercentro e vai da rua Curitiba, nas imediações da praça da Rodoviária, até a rua Guajajaras, há 19 lojas fechadas, número que corresponde, conforme levantamento feito pelo O Fator, a 15,9% do total naquele trecho. 

O hipercentro é um recorte da região central de Belo Horizonte. Seus limites são a avenida Bias Fortes, da avenida Álvares Cabral à avenida do Contorno, até seu encontro com a rua Sapucaí; e desta até o final de seu prolongamento, a rua Itambé, e daí até a avenida Francisco Sales. A partir de então, o limite do hipercentro segue pela alameda Ezequiel Dias, rua dos Timbiras e avenida Álvares Cabral, até seu reencontro com a avenida Bias Fortes. 

Se fosse a folha de uma árvore, a avenida Afonso Pena seria o seu xilema, nome dado à estrutura que une o caule à folha e, de certa forma, a divide ao meio. Pelo xilema passam os nutrientes que a mantêm viva. Dividido pela Afonso Pena, o hipercentro seria uma folha que já começa a perder seu viço. À esquerda de quem sobe em direção à Serra do Curral, é uma folha amarelada que há muito não recebe nutrientes. Nessa parte do hipercentro, mais de um terço (36,6%) das portas das lojas estão fechadas. O lado direito da Afonso Pena é uma folha ainda verde, mas que já sofre, em um ou outro ponto, os percalços do tempo e da diminuição dos nutrientes que lhe chegam. Nesta área, o percentual de portas fechadas é bem menor: 15,4%.

Antes do início desse processo de esvaziamento, o hipercentro, como a própria palavra designa, era para onde a vida da cidade convergia: comércio, serviços, repartições públicas e lazer. Ficava de fora apenas a indústria. Tanto que, era comum as pessoas, quando iam ao hipercentro, dizerem que iam “na cidade”. Esse era o cenário até meados dos anos de 1960. 

Início do esvaziamento

O esvaziamento da região iniciou-se na segunda metade dos anos 1960, quando os moradores de maior poder aquisitivo mudaram-se para a região da Savassi. Com eles, foi-se também uma parte do comércio, a que era composta pelas lojas de produtos mais sofisticados, especialmente as de artigos de moda.

Uma década depois, no final dos anos 1970, o hipercentro sofreu novo abalo. Até então, o sistema de transporte coletivo da capital mineira estava estruturado em linhas que ligavam o centro aos bairros, e vice-versa. Com a entrada em cena da Companhia de Transportes Urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Metrobel), uma autarquia pública criada em 1978 pelo governo do Estado, as linhas centro-bairro deixaram de existir. Foram substituídas pelo atual sistema de linhas bairro a bairro. Com isso, milhares de pessoas deixaram de circular diariamente pelo hipercentro de Belo Horizonte, que se transformou em mero local de passagem, e não mais de destino.

No modelo anterior, as linhas tinham seu destino final em alguma região do hipercentro. Nos pontos, ficavam as filas de pessoas que iriam embarcar tão logo o ônibus chegasse, para então iniciarem a viagem de volta aos seus bairros. As ruas em que se localizavam os pontos finais contavam com um comércio valorizado, porque recebiam muitos consumidores. O próprio hipercentro, como um todo, recebia mais pessoas do que hoje, porque os usuários do transporte público tinham que necessariamente circular por suas ruas para chegarem aos pontos de ônibus.

fachada sede BEMGE
Antiga sede do BEMGE, na Praça Sete, era um dos pontos de grande movimento do hipercentro de BH, entre as décadas de 1960 e 1990 (Foto: Reprodução/Acervo Público Mineiro)

O terceiro abalo veio ao longo dos anos 1980 e 1990 e início dos anos 2000, quando entraram em cena os shopping centers. Dos quatro maiores que foram construídos na capital, naqueles anos, apenas um, o Shopping Cidade, está localizado na região do hipercentro. Os outros três – BH Shopping, o pioneiro; o shopping Del Rei e o Minas Shopping – estão fora do hipercentro. Com isso, mais pessoas deixaram de ter a região como ponto quase obrigatório de compras. 

Aos poucos, os shoppings retiraram das ruas as lojas mais sofisticadas – “de marcas”. E também devoraram os cinemas de rua, cujas sessões se iniciavam sempre às 14h e iam até 22h, quando, normalmente, acontecia a última sessão. No hipercentro, havia 12 cinemas de rua: Art Palácio, na rua Curitiba; Acaiaca e Royal, na avenida Afonso Pena; Brasil, na Praça Sete; Jacques, na rua Tupis; Regina, Guarani e Metrópole, na rua da Bahia; Nazaré, na rua Guajajaras; Candelária, na praça Raul Soares; Tamoio, na rua dos Tamoios; e Palladium, na rua Rio de Janeiro. Não eram cinemas pequenos, como as salas de hoje. Um dos menores era o Tamoio, com 710 lugares. O maior deles era o Candelária, com cerca de 2 mil lugares e cuja edificação está em ruínas.

Destes, o Metrópole foi demolido e virou uma agência bancária. O Acaiaca abriga uma igreja evangélica, cujo número de frequentadores não se compara com o da época em que aquele espaço era um cinema. Distante cerca de 500 metros dali está outro antigo cinema, o Royal, que também virou uma igreja evangélica após o surgimento dos cinemas de shopping. Enquanto no Acaiaca o templo resiste, no antigo Royal, fechado há três anos, o único registro de que ali foi um tempo evangélico está no nome – Igreja Universal – dado pela Empresa de Transporte e Trânsito do Município de Belo Horizonte (BHTrans) ao ponto de ônibus localizado em frente aos antigos cinema e templo. A informação de que o imóvel, que tem área de 1.3 mil metros quadrados, está para alugar é dada por uma faixa afixada em sua fachada. Valor da locação: R$ 40 mil mensais.

Dos demais antigos cinemas que existiam no centro de BH, o Guarani serve como ponto de apoio da Polícia Militar, na região central. Três edificações continuam como equipamentos culturais: o Palladium foi adquirido pelo Sesc, que o transformou em um teatro, destino idêntico ao do Cine Brasil, que foi adquirido pela siderúrgica Vallourec. O Art Palácio e o Tamoios foram transformados em lojas. 

Apenas o espaço do antigo cine Jacques permanece como local de exibição de filmes, transformado em oito salas menores, com entrada por dentro do shopping Cidade. O espaço do antigo cine Nazaré, que fechou as portas em 1994, abrigou uma unidade da Feira Shop – um condomínio de lojas de artigos populares -, empreendimento que não deu certo. Há quatro meses, abriga uma academia de ginástica.

O baque da Cidade Administrativa

Em 2010, o hipercentro sofreu outro golpe: a inauguração da Cidade Administrativa, que retirou da região central, especialmente do entorno da Praça da Liberdade, algo como 20 mil servidores do Estado, segundo cálculos feitos, à época, pela Câmara de Diretores Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH). Marcos Innecco Correa, vice-presidente da entidade, conta que, na ocasião, o então governador Antônio Anastasia argumentou que o impacto da saída dessas pessoas seria mínimo.

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Marcos Innecco, vice-presidente de Relações Institucionais da CDL-BH, aponta que esvaziamento do hipercentro de BH se deu em etapas (Foto: Uarlen Valerio/O Fator)

Marco Inecco Correa afirma que a transformação dos prédios públicos, de secretarias em centros culturais, foi muito importante para a cidade. Mas, do ponto de vista do esvaziamento da área central, foi, segundo ele, um abalo ainda não superado. Por duas razões: a primeira que entre a saída dos servidores e o início do funcionamento dos novos equipamentos culturais, ocorreu um intervalo de tempo muito grande. A segunda que o número de pessoas que frequentam estes centros culturais é muito menor do que o de servidores públicos. Estes estavam no hipercentro diariamente, pela manhã e à tarde, e ali frequentavam as lojas, alimentavam-se na hora do almoço e buscavam na região uma parte dos serviços de que precisavam em sua rotina. 

Marcos Innecco afirma que o impacto do fim das linhas centro-bairro sobre o comércio no hipercentro foi violento. Nas regiões que concentravam os pontos finais dos ônibus, as lojas eram disputadas, no sentido figurado, “a tapa”, com o pagamento de luvas milionárias.

Rodrigo Vieira Carvalho, diretor da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI) e do Sindicato da Habitação de Minas Geras (Secovi), afirma que o pagamento de luvas na transferência de pontos comerciais, na região do hipercentro, ocorre hoje apenas nas lojas existentes nas imediações da Galeria do Ouvidor, complexo de 60 lojas que foi o precursor, ainda nos anos 1960, dos shopping centers. 

O pagamento de luvas ocorria quando um lojista comprava a loja de outro, no sentido do negócio em si, o que incluía a marca, a presença no mercado, a clientela, entre outros atributos do empreendimento. O espaço físico, tanto no caso de locação como de venda, era uma negociação à parte. Além do fim das luvas, houve, segundo ele, uma redução de 40 para 32 no número de lojas vendidas no hipercentro, no primeiro semestre deste ano, em comparação com o primeiro semestre do ano passado. “Hoje, locatários e compradores estão olhando mais para os bairros que para o centro. Não há gente alugando loja no centro. Consequentemente, não há investidor querendo comprar para alugar”, afirma o diretor da CMI/Secovi.

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O pagamento de luvas na transferência de pontos comerciais acontece ainda nas imediações da Galeria do Ouvidor (Foto: Uarlen Valério/O Fator)

A socióloga Janaina Maquiavelli, autora do livro “Cidades em Miniatura”, que analisa os processos de gentrificação (gentrification, ou enobrecimento, na língua inglesa) do Meatpacking  District, em Nova Iorque, e da região da Luz, em São Paulo, afirma que o esvaziamento do hipercentro de BH é resultado da junção de dois fatores. Um é o de que as regiões centrais mudam de lugar à medida em que se popularizam sem que o poder público invista, com a mesma rapidez, em sua revitalização. Com isso, a tendência, segundo ela, é que esse processo se aprofunde. “Isso, naturalmente, retroalimenta a degradação, porque não atrai investimentos nem assegura a infraestrutura, a diversidade de usos e a segurança necessárias à efervescência da vida moderna”. 

O outro fator que a autora aponta é a crise do varejo, que resultou no fechamento de muitas unidades das grandes redes nas áreas centrais da cidades, fruto, a seu ver, do avanço do e-commerce e de uma mudança no comportamento do consumidor brasileiro, que estaria se tornando mais consciente e criterioso no consumo.

O impacto do e-commerce

A lista das intempéries que se abateram sobre o hipercentro nos últimos 60 anos não terminou com a inauguração da Cidade Administrativa. Havia uma outra, em curso, pouco notada na rotina da primeira década dos anos 2000. Era a possibilidade de a internet ser um canal de vendas. O e-commerce começou timidamente no final dos anos 1990, cresceu lentamente na primeira década dos anos 2000 e ganhou forte impulso a partir dos anos 2010, quando entra em cena o smartphone, equipamento que levou a internet para o celular e ocasionou uma verdadeira revolução na vida moderna. 

O comércio não ficou de fora. Com isso, um contingente cada vez maior de lojistas – dos microempreendedores aos grandes magazines – passou a investir na nova tecnologia. Aos poucos, os lojistas perceberam que para vender seus produtos não precisavam mais da cidade física, com suas ruas, praças e avenidas. Com o e-commerce, a vitrine das lojas passou a ser a tela de um computador. 

Até o início de 2020, tudo indicava que o avanço do e-commerce ocorreria de forma lenta, com um tempo para que os lojistas se habituassem à nova tecnologia e também as cidades se preparassem para essa realidade. Só que esse tempo não foi possível ser dado, porque um acontecimento absolutamente imprevisível – a pandemia do novo coronavírus – promoveu uma brutal aceleração desse processo. De uma hora para outra, as cidades se fecharam. Os lojistas foram obrigados a recorrerem ao e-commerce como canal para continuar vendendo seus produtos. Também, de uma hora para outra, as ruas deixaram ser as vitrines das lojas. 

De acordo com o presidente da Associação Brasileira do Comércio Eletrônico (Abcomm), Maurício Salvador, antes da pandemia havia cerca de 4 milhões de consumidores brasileiros no e-commerce. Com a pandemia, esse número saltou para 10 milhões. A Abcomm não tem os dados específicos de Belo Horizonte, mas o número, por si só, segundo ele, dá a dimensão do avanço do e-commerce.

Segundo Maurício Salvador, antes da pandemia, havia dois cenários para a digitalização. Em um estavam os lojistas que já investiam na venda eletrônica. Em outro, os que resistiam, porque não a consideravam um canal de vendas promissor, porque viam como elevados os investimentos a serem feitos, ou então por barreiras psicológicas em relação ao uso da tecnologia.  

Com a pandemia, estes cenários foram, em parte, unificados, pois todos tiveram que baixar suas portas. Aí, segundo o presidente da Abcomm, veio a diferença, pois os que já estavam no e-commerce puderam respirar, alavancando suas vendas. Os que estavam no zero, fizeram a opção, segundo Maurício Salvador, por esperar a reabertura da cidade e a volta do consumidor. 

Só que nem todos tiveram condições de custear essa espera, e optaram por encerrar o negócio em meio a pandemia. Para piorar, nem todas as lojas conseguiram reabrir suas portas ao final do confinamento. Essa triste realidade é visível nas ruas do hipercentro. Levantamento realizado pelo O Fator em 14 quarteirões da região central, apontou que, em vários deles, o número de portas fechadas está próximo da metade do total.

Esta é a situação, por exemplo, do quarteirão formado pela rua da Bahia, rua Tupinambás, rua Espírito Santo e avenida Amazonas. Neste quarteirão, 45.2% das lojas estão fechadas, percentual próximo ao de portas abertas, 54.7%. A situação é idêntica no quarteirão vizinho, formado pela rua da Bahia, rua Tupinambás, avenida dos Andradas e rua Carijós (áreas delimitadas em vermelho, no mapa abaixo – clique para conferir os números do levantamento feito pelo O Fator).

Para Elvis Gaia, diretor-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Belo Horizonte (Codese-BH), o esvaziamento do hipercentro da capital mineira é resultado do movimento pela descentralização das áreas centrais, que ocorreu nas principais capitais brasileiras. O fator negativo é que isso se deu, segundo ele, sem que os gestores públicos tivessem instrumentos que ordenassem essa movimentação, uma vez que o Estatuto das Cidades entrou em vigor somente em 2001. “Foi a partir daí que os municípios começaram a criar seus planos diretores e, com isso, passou-se a ter planejamento para o desenvolvimento das cidades a médio prazo”, afirma Elvis Gaia. O problema, segundo ele, foi a pandemia, que agravou a situação.

O Baixo Centro

Estes dois quarteiros estão localizado na região que é conhecida como Baixo Centro, ou Baixo Belô. O uso da palavra “Baixo” para designar aquele ponto do hipercentro se deve ao fato de ela estar localizada cerca de 20 metros, equivalente à altura de um edifício de sete andares, em relação ao eixo da avenida Afonso Pena. A denominação “Baixo Centro” foi dada quando a região ainda tinha um comércio pujante. Não se tratava de um adjetivo que desqualificava a região. 

Hoje, no entanto, o adjetivo encaixa-se como uma luva, para descrever o cenário de uma região em acelerado processo de esvaziamento: baixo número de lojas abertas, baixo número de consumidores, baixo número de pessoas em circulação. 

O Baixo Centro é uma mancha de esvaziamento da vida urbana dentro do Hipercentro. Seus limites são a avenida Afonso Pena até a Rodoviária, e a avenida do Contorno, a praça Rui Barbosa, a rua dos Tamoios, e a rua da Bahia até seu encontro com a avenida Afonso Pena.

Incrustrada no meio do Baixo Centro estão dois shoppings de artigos populares: o Oiapoque e o Xavantes. São como um oásis de bons negócios em meio a um cenário de desalento urbano. Levantamento realizado por O Fator revela que das 45 lojas existentes no quarteirão que circunda o Xavantes, 86.6% estão abertas e apenas 13.3% estão fechadas, percentual semelhante ao do comércio localizado do outro lado da avenida Afonso Pena, e que encontra-se fora da mancha de esvaziamento do hipercentro.

Se os shoppings Oiapoque e Xavante são um oásis de bons negócios, o Edifício Central, na Praça da Estação, é o oposto. Lá, conforme levantamento feito pelo O Fator, das 71 lojas com portas para a rua, mais da metade (37 ou 52.1%) estão fechadas. Em uma delas, está afixado um cartaz: “Vendo: direto com o proprietário”, e seu telefone, do corretor de seguros aposentado, Eunápio Aloisio Horta que, há um ano, adquiriu duas lojas no Edifício Central, acreditando na promessa de revitalização do centro da cidade. Por cada loja, pagou R$ 200 mil e investiu outros R$ 20 mil em reformas. Além de não ter conseguido alugar, está sendo obrigado a arcar com o preço da desvalorização dos imóveis na região. “Hoje eu não acho nem R$ 200 mil na loja”, desabafa Eunápio Horta. 

edificio central ao lado da praça da estação
Edifício Central, que fica ao lado da Praça da Estação, tem pouco mais de 50% das lojas fechadas (Foto: Uarlen Valério/O Fator)

Além das duas lojas no Edifício Central, que está no coração da mancha de esvaziamento do hipercentro, Eunápio possui quatro salas no Edifício Mesbla, situado no início da avenida Afonso Pena, à direita de quem vai em direção à Serra do Curral. Na analogia com a folha da árvore, aqui usada para representar o hipercentro, as quatro salas de Eunápio estão na porção ainda verde da folha. Não foi por outra razão que lá ele conseguiu recuperar parte do capital investido, pois alugou duas das quatro salas que adquiriu.

Na média por quarteirão, o percentual de portas fechadas à direita da avenida Afonso Pena é de 15.4%, menos da metade do percentual registrado pelo O Fator dentro da mancha de esvaziamento, que é de 36.6%. À direita da Afonso Pena está o shopping Cidade, que funciona como uma espécie de âncora de quarteirão, da mesma forma que a Galeria do Ouvidor e os shoppings Oiapoque e Xavante. No quarteirão do Shopping Cidade, que é formado pelas São Paulo, dos Goitacazes, Rio de Janeiro e Tupis, das 58 lojas de rua existentes, apenas uma está fechada. No quarteirão cortado pela Galeria do Ouvidor, formado pelas ruas dos Carijós, São Paulo, dos Tamoios e Curitiba, de 104 lojas, apenas duas estão fechadas

Avenida Afonso Pena

Na principal artéria que corta o hipercentro de Belo Horizonte, a média de portas abertas (13.7%) equivale a menos da metade do registrado na macha de esvaziamento. Há também uma grande variedade de estabelecimentos comerciais. São 24 lojas de roupas masculina, feminina e infantil; 23 lanchonetes; 13 lojas de calçados; 11 das antigas bancas de revistas; dez óticas; nove lojas de acessórios para celulares; oito lojas de variedades; cinco lojas de operadoras de telefonia celular e cinco de correspondentes bancários, entre outras. 

Não fica só nisso: na Afonso Pena, há uma barbearia, uma loja de jogo do bicho e uma das loterias oficiais da Caixa, um hotel, uma loja de perfumes, um consultório de dentista, uma loja de chocolates, uma revenda de motocicletas, duas igrejas (uma católica e uma evangélica) e até uma funerária. Em resumo, quem mora no hipercentro da cidade tem “de tudo um pouco” para o seu dia a dia. E também para o seu último dia.

Ao longo do trecho pesquisado por O Fator, na avenida Afonso Pena, há algumas concentrações de estabelecimentos por setor. As lojas de calçados ficam entre a praça da Rodoviária e a praça Sete. Os correspondentes bancários estão concentrados à direita, entre a rua dos Tamoios e a rua da Bahia, no quarteirão onde está o edifício Sulacap. As operadoras de telefonia ficam a, no máximo, dois quarteirões da praça Sete. 

A diferença entre a avenida Afonso Pena, de hoje, e a dos anos dourados, é que se o consumidor está em busca de lojas de marca, não será lá que irá encontrá-las. O comércio da Afonso Pena tende para lojas de artigos mais populares, funcionando como prolongamento dos shoppings Oiapoque e Xavantes.

Se o consumidor está à procura de um agência bancária, também terá que andar muito, pois as agências físicas foram (e estão sendo ainda) engolidas pelos celulares. Na avenida Afonso Pena, há apenas duas agências bancárias – dos bancos do Brasil e Santander. Há duas décadas, quem estivesse no centro e precisasse sacar dinheiro, teria na rua Espírito Santo, entre as avenidas Afonso Pena e Amazonas, agências físicas dos bancos Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Unibanco e Caixa. Hoje, apenas a Caixa mantém agência na região. Na rua Espírito Santo, entre a rua dos Carijós e a Avenida Amazonas, há um prédio inteiro à venda. Nele, no andar térreo, funcionava uma agência do Bradesco. O valor do lance mínimo é de R$ 1.700 o metro quadrado, o que significa um valor total de R$ 25 milhões como lance inicial para o edifício. 

No mesmo quarteirão do prédio vazio do Bradesco, o pipoqueiro, que há décadas estaciona seu carrinho por ali, define com precisão a ponte entre o passado e o presente:

– “Isso aqui era um corredor de gente”!

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Encontro contou com a presença de dirigentes do partido e parlamentares do Congresso